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Gravação de CD vai impulsionar campanha dos Músicos do Futuro

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Leandro Lehart e Maestro Edison lançam a campanha
em pról da sede própria da Associação Músicos do Futuro
Foto: David da Silva - 19.out.2014
Poucas horas depois de ter saído da Associação Músicos do Futuro na tarde de ontem, domingo 19 de outubro, o compositor Leandro Lehart já publicava em sua página no Facebook: “Hoje apadrinhei uma escola de música em Taboão da Serra. Espero que com essa divulgação eu possa conhecer mais gente heróica neste país, que faça o papel que os governos não fazem. Quero conhecer ainda mais os meninos e as meninas artistas deste Brasil, e que eu possa estar envolvido de alguma maneira. Vamos arregaçar as mangas e fazer, ao invés de esperar governos que nunca fazem da música parte do ensino fundamental”.
A inclusão do aprendizado musical na rede pública do ensino foi reiterada pelo artista várias vezes durante a sua conversa com o público que compareceu em massa na VI Feijoada Músicos do Futuro. O evento é anual e visa arrecadar verbas para a manutenção da escola, e a compra de instrumentos musicais para alunos cujas famílias não podem comprar.
No vídeo que postou na rede social, Leandro Lehart gravou que “a Associação Músicos do Futuro é um exemplo de superação e de amor à música”.
A iniciativa de apoiar a entidade arrancou prontos elogios de internautas. “Você sempre teve um coração repleto de amor ao próximo”, escreveu Irene Neri. “É disso que precisamos no Brasil”, comentou Gilberto Rosa. O ativismo social não é novidade na carreira do compositor. Ele conta com reconhecimento da ONU (Organização das Nações Unidas) pela criação de uma instituição de combate ao câncer infantil.
Foto: Joelma Sales - 19.out.2014

A qualidade da feijoada repercutiu na internet. “Hoje cometi o pecado da gula. Mas papai do céu perdoa. Tava bom demais, e ainda na presença de uma pá de gente querida. Valeu, maestro!”, registrou o ator e diretor teatral Orias Elias, criador do Espaço Cultural Encena. Estima-se que no decorrer de toda a tarde do domingo passaram pela sede da Associação Músicos do Futuro em torno de 1.200 pessoas.
“No decorrer desta semana vamos divulgar uma lista detalhada com os nomes de todos os que colaboraram para o sucesso da festa. Seja trabalhando diretamente no evento como voluntário, seja com contribuições indiretas. Fazemos questão de contemplar todos e cada um que tornou possível atingirmos nossa meta e deixar nossos convidados felizes”, declara o maestro Edison Ferreira. Ele criou a Associação há 18 anos.
Foto: David da Silva - 19.out.2014
Ao agradecer ao maestro-fundador o convite para iniciar a campanha denominada “Eu Apoio”, Leandro Lehart lembrou dos seus tempos de criança: “Gente, que emoção estar aqui. Vocês nem imaginam como estou emocionado. De verdade. Lembro quando eu comecei no Conservatório Municipal de Música [no bairro] de Tucuruvi [zona norte da cidade de São Paulo/SP]. Andando pelas ruas de São Paulo a gente percebe que as escolas de música estão cada vez mais raras. A musicalização da juventude como o maestro Edison está fazendo, e como tantos professores envolvidos aqui fazem... A gente vê exatamente isto: puxa um pouco aqui, puxa um pouco ali... faz uma sala nova aqui, faz uma sala nova ali... Como são heróicas essas pessoas que fazem o que o governo deveria fazer. A gente realmente tem este sonho desde criança, que a educação musical deveria fazer parte do ensino fundamental nas escolas. Infelizmente não fazem. E pessoas heróicas como o maestro, como tantos professores de música, tantas pessoas envolvidas fazem no lugar onde o governo deveria estar. Eu praticamente vim dessa leva de músicos que aprendeu teoria musical na juventude. Meu pai era alfaiate. A gente dividia o dinheiro entre a escola
Maestro Edison apresenta a Leandro Lehart o projeto
da futura sede própria dos Músicos do Futuro.
Foto: David da Silva - 19.out.2014
pública e o conservatório, aprendi a teoria musical. Vejo o quão é importante o envolvimento de vocês com a música. Mesmo que apenas 10% dos alunos possam seguir adiante com a carreira de músicos , e os outros 90% vão ser arquitetos, engenheiros, médicos, ou advogados, seja lá a profissão que forem, levar a música para o resto da vida é uma coisa realmente inexplicável e arrebatadora nos corações. Tanto da pessoa que faz a música, quanto da sua família, os seus amigos, enfim, todas as pessoas que fazem parte do seu cotidiano. Eu acho que consegui enfeitiçar a minha família, os meus amigos,  meu grupo social, os meus fãs, através da minha música. Eu sempre levei essa coisa de compartilhar e agradecer a sorte que eu tive de ser músico no Brasil, um país tão difícil, que não reconhece a música como parte do ensino fundamental. É tão difícil viver de música hoje no Brasil. Sei da batalha de tantos músicos, de tantos sonhos. Eu me sinto privilegiado de estar aqui. Eu espero, sendo um dos padrinhos deste projeto, ajudar vocês no máximo que eu puder”.
Leandro Lehart sugeriu ao maestro Edison Ferreira a gravação de um CD cuja venda será revertida ao cofre da Associação com vistas à construção de sua sede própria. A entidade funciona hoje em uma casa alugada. O imóvel já foi vendido para uma construtora. A Associação terá de desocupar o prédio em breve. “O maestro vai fazer uma seleção de alunos e professores, vai elaborar uns arranjos musicais, e eu vou levar este pessoal no meu estúdio de gravação”, afirmou o cantor.
No próximo dia 22 de outubro, quarta-feira, Leandro Lehart faz show no CEU Paraisópolis, às 20h, com entrada gratuita.

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Veja a galeria de fotos da VI Feijoada.
Foto: David da Silva - 19.out.2014


Garçom serve alegria no prato principal

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O garçom Josivaldo - Foto: David da Silva
Bem no meio da refeição, o freguês teve de se levantar pra ir ao banheiro. Era o primeiro cliente na vida do garçom Josivaldo. “Pensei que o rapaz tinha terminado, fui lá e levei a comida dele embora. Quando tô juntando os pratos, vem ele bem nas minhas costas: ‘Ô, meu chapa! Deixa meu almoço aí!’. Ele tinha pedido uma comida facinha de servir. Arroz, feijão, bife e ovo. Eu trabalhava antes na construção civil. Nunca tinha servido ninguém na minha vida. Quis ser eficiente demais no meu primeiro atendimento e dei aquela mancada”, relembra entre risos.
Mas isso já faz muito tempo.
Hoje Josivaldo é um dos garçons mais competentes e queridos de Taboão da Serra. É também um dos profissionais mais divertidos em seu ramo. “Não tô nem aí. Eu brinco com todo mundo. Trabalho contente”, diz.

A infância e juventude de Josivaldo repetem a história de milhões de migrantes nordestinos. Nascido no município de Solânea, no agreste paraibano, a 138 quilômetros da capital João Pessoa. Filho do senhor Josafá Ferreira da Silva e de dona Maria das Neves.
Pouco depois de sua chegada a São Paulo, Josivaldo foi levado por sua tia Raimunda a morar em Brasília. “Eu era muito bom em fazer aqueles caminhõezinhos de madeira em miniatura, e fui pra lá trabalhar numa fábrica. Fiquei lá um ano e pouco, e saí fora”.
O pai de Josivaldo possuía um galpão na capital federal, e cedeu o espaço para seu filho viver do ofício de marceneiro. “Comprei duas maquininhas e comecei a mexer com móveis usados. Fazer reformas, entendeu? Dá dinheiro, sabia? Móveis usados pra você reformar, guarda-roupa, cômodas, mesa, cadeira, penteadeira... Mas dá um trabalho danado, viu?”.

Certa feita Josivaldo foi procurado pelo dirigente de uma igreja evangélica. Ele não se lembra do nome do religioso. Só recorda que a pessoa era duma localidade chamada Lago Azul, no entorno de Brasília. “Daí, resumindo. Lá tinha uma igrejinha pequena, da Universal, e o pastor precisava de uma cruz grandona. Eu fiz a cruzona pros caras. Uma cruz de uns dois metros de altura, enorme. Pra eles pôr bem no centro da igreja”.
Os crentes gostaram do serviço. “Daí eles falaram: ‘Vamos fazer umas cruzes pequenas pra gente vender para os irmãos que freqüentam nossa igreja’. Aí eu me lasquei”.
A marcenaria de Josivaldo teve de se dedicar em tempo integral às encomendas do pastor da Igreja Universal do Reino de Deus. “Eram umas cruzinhas assim, bem miudinhas (imita o tamanho entre os dedos indicador e polegar). Coisa de 8cm de comprimento por 5cm de largura”.
A semana toda inteira tomada. “De segunda e terça-feira eu cortava as madeirinhas. Quarta e quinta-feira eu lixava todas elas. Sexta e sábado eu colava as cruzinhas. E sábado de noite o irmão passava lá e levava embora”.
Pergunto a quantidade da produção semanal. Josivaldo responde com a precisão típica dos botecos: “A quantidade certa assim de cabeça não dá pra dizer quantas eram, não. Mas era cruz que só a porra”.
Passado o acesso e o excesso de riso, concluímos que ele vendia cerca de 1.500 a 2.000 cruzinhas de madeira toda semana para o mercador da fé.
Um dia Josivaldo ficou sabendo por quanto o tal pastor vendia cada pequenina cruz de madeira.  “Ele me pagava uma miséria em cada cruz. Mas vendia cada cruzinha por R$ 2,00 pros irmãos lá da igreja dele. Um lucro de mais de mil por cento em cima do meu trabalho. Daí eu me invoquei e parei com aquela exploração”.

Em São Paulo Josivaldo tinha seu irmão, Francisco, empregado na construção civil. “Vim trabalhar mais ele”.
“Um dia eu tava pintando um restaurante aqui na BR-116, perto do Shopping Taboão. O sobrinho do dono do restaurante me chamou pra pintar a casa dele. Era o Valmor, meu patrão até hoje. Que eu chamo de Gauchão”.
Valmor foi dono de um dos bares e restaurantes mais freqüentados de Taboão da Serra. Na esquina da Praça Nicola Vivilechio com Rua Levy de Souza e Silva. Bem ao lado do Cemur. “A gente fez amizade pelo serviço de obras que eu fazia na casa dele. E o Gauchão perguntou se eu encarava trabalhar no restaurante dele”, diz Josivaldo, ainda rindo muito do vexame que passou com seu primeiro cliente.

Foto: David da Silva
Na badalada esquina ao lado do Cemur, zona boêmia taboanense, Josivaldo era uma atração à parte. Muitas gargalhadas a cada prato ou bebida servida. No início de 2014 a sociedade de Valmor com seu irmão se desfez. Mas ele carregou Josivaldo para seu novo ponto comercial. “Os caras que compraram o restaurante lá do lado do Cemur me ofereceram um salário melhor pra eu continuar lá. Mas sou amigo do Gauchão, e resolvi seguir com ele”.
Hoje Josivaldo serve bom humor como prato principal na nova lanchonete-restaurante do seu amigo-patrão.

Quem vê Josivaldo naquela risadaria toda, sequer pensa ser ele um homem solitário. Separado de dois relacionamentos, seus olhos brilham ao falar das duas filhas, cada uma com uma mãe diferente. “Eu não tenho nada nessa vida. Só as minhas duas filhas. A Bruna, de 17 anos, que vive com a mãe dela em Brasília. E a Milena, de 9 anos, vive aqui em São Paulo com a mãe. Para mim, abaixo de Deus, só elas”.

A bica d’água que mora no coração do povo

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Biquinha do Pq Pinheiros - Foto: David da Silva
“Se alguém subir no trator pra aterrar a biquinha, daqui mesmo aperto o gatilho. Mando bala. Sento o aço”. 
O homem (que vamos citar apenas pela inicial A.) estava de fato disposto a derramar sangue para que a mina de água continuasse a jorrar. 
Aquela era a segunda ameaça de extinção contra a nascente. A legendária Biquinha do Parque Pinheiros, em Taboão da Serra. Primeiro foi a Sabesp. Depois, a própria prefeitura. Ambas tentativas no decorrer da segunda metade da década de 1980. 
Mas a população se rebelou. Não permitiu a morte do olho d’água. 
Mais encantador é saber que a fonte brotou por entre os dedos de uma menininha em flor, no ano de 1967.

Situada no canteiro central da Avenida Laurita Ortega Mari, a biquinha do bairro Parque Pinheiros verte 900 litros de água por hora; 21.600 litros por dia; 648 mil litros por mês.
Nunca aconteceu de secar; nem jamais diminuiu sua vazão por um minuto de um dia sequer, nos seus quase 50 anos de descoberta.

Quem descobriu a nascente foi Ana Maria Ribeiro de Almeida, quando ainda criança. “Eu devia ter seis ou sete anos de idade, e brincava sempre por aqui com meus irmãos”, conta. 
Nascida em Itajubá (MG), Ana Maria veio para Taboão da Serra com apenas seis meses de vida. 
Por feliz coincidência, Ana fazia aniversário no dia em que
fui procurá-la para a entrevista. Foto: David da Silva
Morando de aluguel, sua família ficou por uns tempos na Vila Iasi, depois no Jd Irapuã, até o pai comprar o terreno na antiga Rua F-16, atual Rua Virgínia Placidina da Conceição, onde vive até hoje. “Meu pai e minha mãe trabalhavam, e eu tinha coisas da casa pra cuidar. Mas sempre sobrava tempo para brincar”, lembra Ana, que hoje é copeira do Hospital das Clínicas.

Os filhos do funcionário público Manoel Leite de Almeida se espalhavam pelos descampados dos arredores. Tudo era um imenso quintal. “Nossa casa foi a segunda a ser construída neste trecho. Só tinha o nosso vizinho Zé Queijeiro. Em volta era só mato. E o brejo”, relata Ana. 
Seus irmãos Benedito e João Batista pegavam argila do brejo para fazer bolinhas e atirá-las com estilingue. A menina sempre por perto. “De repente, do nada eu fui afastar uns raminhos de mato, e vi aquela água borbulhando na areia. Chamei meu irmão Benedito, e começamos cavar. Vinha água e mais água. Até ficar um buraco desse tamanho assim”, e Ana Maria envolve na largura de um abraço a descoberta que fez 47 anos atrás.
Manoel Almeida, pai de Ana Maria, foi da primeira leva de funcionários do cemitério municipal de Taboão da Serra. Daí ser conhecido nas redondezas por Mané Coveiro.  “Meu pai se juntou com os amigos Otávio e Joaquim para arrumar a biquinha. Até que outro morador antigo, o carpinteiro seo Rafael colocou o tubo que está lá até hoje”, conta João Batista, irmão de Ana Maria. 
"Este lugar aqui marcou minha infância e a juventude inteira", diz Ana com uma sombra de saudade no olhar.
O outro irmão, Benedito, parceiro de Ana na aventura do descobrimento da bica, faleceu em 2006.

Valentias na beira da bica
O motorista de caminhão Getúlio Miguel da Silva, 49 anos, é vizinho da biquinha há 40 anos. “Teve ocasião de vir uns cinco caras zoar aqui na bica. Tomar banho só de cuecas, e todo mundo vendo a bagunça. Daí o Celso [morador já falecido] pegou o revólver, foi pipoco pra todo lado, e botou os caras pra correr na base da bala”, lembra Getúlio. “Vez ou outra aparecia uns folgados pra urinar no buraco da bica. A gente não deixa, não”, diz. 
Os amigos Getúlio e Valtão relembram momentos de real bravura
dos que lutaram com ardor na defesa da biquinha. Foto: David da Silva
Junto com o ator teatral Valter Costa, o motorista resgata outros casos de valentia em defesa da bica. Feito o do morador que jurou matar o tratorista que se atrevesse jogar terra sobre a fonte.
“Por volta de 1985 a Sabesp colocou uma placa aqui, proibindo a gente de pegar água pra beber. Diziam que era contaminada. Mas o povo continuou. Ninguém nunca ficou doente por beber água da biquinha. E eu uso água dela até no meu aquário, peixinhos pequenos, sensíveis, e nada de mal acontece para eles”, garante Getúlio.
A biquinha do Parque Pinheiros é um santo auxílio quando há problemas no abastecimento da Sabesp. “Vem gente de bairros distantes encher vasilhas aqui”, conta Valter.
O eletricista Marcos Assunção, morador do Parque Marabá, é uma dessas pessoas. “Comecei a construir minha casa em 1979 misturando areia, pedra e cimento com água da biquinha. A casa ficou pronta em 1982, e vim pro Marabá. Ficamos quase três anos usando água da bica para fazer comida, pra beber, lavar louça e roupa. Na época não furamos poço porque já tinha o projeto da Sabesp instalar água encanada no bairro. E a biquinha sempre foi nosso grande quebra-galho”, diz Assunção.
"Bebo água da biquinha desde criança",
diz o comerciante João Batista.
Foto: David da Silva

Seis anos atrás, ao mudar-se para Parque Pinheiros, o morador Edivaldo desconfiou da segurança com que seus vizinhos bebiam da biquinha. Tomou a iniciativa de levar amostras da água para atestar sua potabilidade no Instituto Adolfo Lutz.

Contra as duas investidas do poder público sobre a biquinha décadas atrás, os vizinhos da nascente não mediram esforços. Fizeram abaixo-assinado, se articularam com vereadores, e ainda contaram com a solidariedade bélica dos valentões do pedaço.

Pela sua importância na vida das pessoas, e pelo lugar que ocupa no coração da comunidade, a Biquinha do Parque Pinheiros merece uma bela reforma.
Fotos: David da Silva - 25.out.2014

Moradora de Taboão da Serra é top model na Europa e EUA

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Daniela começou a desfilar com 18 anos. Foto: Instagram
Para quem fazia troco no caixa de uma farmácia três anos atrás, a modelo taboanense Daniela Braga deu passos bem largos. E a passada foi longa não apenas pelos seus 1,81m de altura. “Prefiro acreditar que eu estava com as medidas certas, na agência certa, na hora e local certos”, diz. 
No próximo dia 2 de dezembro Daniela vai estrear em Londres, no desfile anual da Victoria’s Secret, onde cintilam as tops mais desejadas do planeta.
Os pais de Daniela são de Minas Gerais, e viveram lá por muitos anos antes de virem morar em Taboão da Serra. O carinho da top model pela cidade é uma constante em todas as suas entrevistas. Primeira vez que a vi numa matéria da TV Band, ela logo frisou de onde vinha e a que veio: “Eu sou paulista mesmo, daqui de Taboão da Serra. Vocês conhecem?”. Foi esta a pergunta que me tirou do cochilo numa dessas altas madrugadas insones da vida. A moça disse que vive hoje em Nova York – e diz Yorrrrke num “érre” bem retorcido, à moda do sotaque herdado dos pais mineiros.

Conexão Taboão / Estados Unidos
Sempre que está de folga entre um desfile e outro, Daniela Braga faz questão de visitar os pais em Taboão da Serra, e reencontrar colegas do antigo emprego na farmácia.
A moça chamava a atenção no caixa da farmácia.
Foto: Divulgação
Por razão de tranqüilidade aos pais da garota, não vou revelar o bairro onde vivem. Mas o sucesso meteórico no mundo fashion não apagou a modelo do coração da sua gente. “Olha a Dani...”, disse uma amiga de infância da artista quando lhe mostrei a foto da ex-vizinha famosa.
No caixa da farmácia era impossível Daniela não ser notada. Seus mais de 1,80m de altura somados aos 62cm de cintura e 86cm de quadril, provavam matematicamente que aquela lindeza não nasceu para ganhar salário mínimo. Junto com as moedas dos trocos, choviam cartões de agências sobre a moça. O assédio surtiu efeito quando Daniela cruzava a fronteira prazerosa dos 18 anos. “Estava fazendo faculdade de Recursos Humanos, mas resolvi ligar para uma daquelas agências”, conta.
Seis meses depois já estava morando nos Estados Unidos. Hoje tem por trás de seus passos marcas famosas como Givenchy, Dior e Balmain. Mas como boa filha de mineiros, a estrela tem os pés no chão: “Nunca se sabe o que vai acontecer na vida de uma modelo. Tenho só 22 anos, e uma carreira inteira pela frente. Mas, se um dia tiver que voltar, eu volto a fazer meu curso de RH”.
Daniela estreia dia 2 de dezembro em Londres.
Foto: Felipe Abe
Quando não está na passarela, ou nas salas de espera de aeroportos, ou em quartos de hotéis, Daniela Braga se larga a dançar. “Parece engraçado, mas curto música sertaneja e hip hop. Parece não ter nada a ver uma com outra, mas é assim que gosto. Misturado”.

Quando não está balançando diante das caixas de som, ou lendo romances de Sidney Sheldon, a moça gosta de levar sustinhos. “Gosto muito de filmes de terror. Sou muito medrosa, mas adoro filmes de terror”.

Com repertório eclético, Músicos do Futuro brilham no Recital 2014

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Homenageado do ano foi o compositor Julio Cesar de Figueiredo    
Orquestra Experimental Músicos do Futuro. Regência: maestro Edison Ferreira.
Foto: David da Silva - 23.nov.2014
O recital de final de ano da Associação Músicos do Futuro ofereceu uma gama variada de estilos musicais para o público que lotou o teatro do Centro de Ensino Unificado (CEU) Campo Limpo no último domingo, 23 de novembro. A programação teve música erudita, trilhas sonoras de filmes, chorinho, baião, maracatu, baladas românticas, cantiga africana e até canções populares catalãs.
Foto: David da Silva
O ponto alto do evento foi a homenagem ao compositor e arranjador Julio Cesar de Figueiredo, nome de destaque no cenário da MPB e da música sinfônica brasileira.
Houve ainda uma emocionante reverência ao maestro Edison Ferreira, que fundou a Associação Músicos do Futuro há exatos 18 anos. A entidade começou em 1996 com apenas 5 alunos que aprendiam música no apertado vestiário de uma escola estadual no Parque Marabá, Taboão da Serra. Hoje a entidade tem 716 alunos, no convênio mantido com a Prefeitura de Taboão da Serra. Nestes 18 anos, mais de 4.600 crianças e jovens já passaram pela associação, com vários deles tendo atingido nível médio e avançado em formação musical. Os números são sonoros: 83 destes ex-alunos estão atualmente muito bem empregados em orquestras sinfônicas espalhadas pelo Brasil, em bandas sinfônicas e bandas de shows; 18 destes alunos se graduaram em música como bacharel; outros três ex-alunos cursam nível superior em música na Universidade de São Paulo e na Faculdade Cantareira, e há outros dois ex-alunos fazendo Mestrado em Música na USP e na Universidade Federal da Paraíba.
Foto: David da Silva
Foto: David da Silva
O homenageado Julio Cesar de Figueiredo (foto à esquerda) é um gigante no seu ofício. É o principal arranjador musical da Banda Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo. Começou a estudar violino com apenas sete anos de idade; aos nove anos passou a estudar contrabaixo acústico. Em 1966 iniciou no piano. Estudou composição e regência com o legendário Camargo Guarnieri.
No campo da Música Popular Brasileira, Julio Cesar de Figueiredo tem seu nome ligado a grandes astros como Dick Farney, Alaíde Costa, Nana Caymmi, Beth Carvalho, Nara Leão e muitos outros. Além de compositor, arranjador e produtor de discos, também compôs trilhas sonoras para comerciais de rádio e televisão.
É mestre em várias áreas musicais na Faculdade Cantareira, na Escola de Música do Estado de São Paulo, e na Universidade Livre de Música Tom Jobim.

“Essa é a quinta edição do nosso Recital de Final de Ano em que são homenageados grandes nomes da música. Já foram enaltecidos o dr. Paulo Meinberg (fundador da Faculdade Cantareira), o compositor Antonio Ribeiro, o maestro-arranjador-compositor Edmundo Villani-Côrtes, e a violinista Elisa Fukuda”, relaciona o maestro Edison Ferreira, ele próprio muito comovido, levado às lágrimas pela louvação que a associação lhe pregou de surpresa.
Maestro Edison Ferreira e Julio Figueiredo
Foto: David da Silva - 23.nov.2014
A respeito do trabalho do maestro Edison Ferreira na educação musical mesclado com o resgate social das potencialidades da juventude, Julio Cesar Figueiredo disse:
“Mais ou menos oito anos atrás, conheci o maestro Edison Ferreira. Desde então venho acompanhando o trabalho dele na Associação Músicos do Futuro. A luta dele é uma luta solitária. Porque na verdade, me parece que quando você quer fazer trapaças, sempre encontra pessoas que te acompanham. Agora se você quer ajudar, parece que ninguém te apóia. Então ele tem que lutar, lutar, lutar, para manter uma associação. Ao contrário do que acontece neste país. Ou seja. As pessoas fazem as coisas em benefício próprio. E veja: ele corre pra cá, corre pra lá, faz de tudo – como se diz na linguagem popular: faz das tripas coração – para poder fazer um bem para a comunidade. Especialmente àquelas pessoas mais carentes. Isto, no que nós estamos vivendo hoje, que a gente tanto ouve no noticiário, isto é um oásis. Porque a gente só vê acontecer o contrário. É isto que eu tenho a falar desse sujeito que é um grande cara.  Eu apoio a Associação Músicos do Futuro porque nós precisamos até de muito mais associações como esta, pra gente começar a mudar o nosso país”.
Alunos, familiares e funcionários homenageiam maestro Edison. Foto: David da Silva
Recentemente a Associação Músicos do Futuro recebeu o apoio do compositor popular Leandro Lehart.
A campanha Eu Apoio visa num futuro próximo conquistar uma sede própria para a Associação.
Músicos do Futuro dirigidos pelo maestro Edison irão tocar no próximo dia 2 de dezembro na inauguração do prédio próprio da Câmara Municipal de Taboão da Serra. No dia 7 de dezembro haverá um recital especial com almoço na sede da entidade (veja o anúncio no topo desta página). Ainda em dezembro a Associação Músicos do Futuro estará presente com seu coral e quarteto de cordas no Natal Iluminado, na Praça Nicola Vivilechio.

A programação completa do que foi executado no Recital 2014 dos Músicos do Futuro está aqui













Orquestra Experimental Músicos do Futuro. Regência: maestro Edison Ferreira. trompetes:Rafael Dias, Leandro Lima, Miquéias Leme, Amanda Santos Costa.  flautas: Marcelle Ferreira, Gabrielli Coelho,Arthur Guilherme. violinos: Hágatha Mayumi Kanzawa, Douglas Araujo,Thaina Pinto Rios, Lucas Silva Dantas, Vitória dos santos Marques, Bianca Abigail , Martha Chawana, Nathalia Nacamura, Elisa Gomes, Jhonatas Henrique Amaro, Felipe Carlos de Oliveira. oboé: Erick Felix. clarinetes: Debora Cabral, Renan Vitor. trompas:  Camile Vitoria, Caroline Francisco. tuba: José Renato. percussão: Juliana Brizzi, Vinicius Pazzini ,Edvan Rodrigues ,Sidney Júlio. violas sinfônicas: Murilo Frias,Gabriel de Mello, Mauro Koite, Allan Henrique Sanches, Matteus Farias. violoncelos: Cassiano Sampaio, Nathalia Bueno, Ester Cabral. contrabaixo:Jorginho Silva

Uma noite no topo do trompete

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Na fileira à minha frente, na segunda poltrona da esquerda, o gigante Fernando Dissenha, trompete solo da OSESP (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo).
No palco, um dos maiores trompetistas da atualidade, o norte-americano Allen Vizzutti. Consagrado mundialmente, o artista já deu shows em mais de 60 países, e tocou em mais de 150 trilhas de filmes campeões de bilheteria como De Volta para o Futuro, Rocky II, Poltergeist II, Star Trek, etc.
A terceira noite da segunda edição do Jazz Trumpet Festival começou com uma bela homenagem a Dorival Auriani, o Buda, que no último dia 15 de janeiro completou 85 anos de idade. Comovido, o veterano trompetista que começou a tocar aos 7 anos, agradeceu em lágrimas a reverência.
“Logo que pensamos em criar esse festival em 2013, eu recorri ao maestro Edison Ferreira, coordenador musical da Faculdade Cantareira, e ele prontamente me atendeu”, conta Marcos Braga, um dos organizadores do evento. “Conheci o maestro Edison quando eu ainda era adolescente, e trabalhava como vendedor em uma loja de instrumentos onde ele era freguês. Durante um ano e meio freqüentei a Associação Músicos do Futuro, criada por ele em Taboão da Serra”, relembra Braga.
A Faculdade Cantareira, por intermédio de Edison Ferreira, cede suas instalações para os quatro dias e quatro noites de masterclasses e concertos com os maiores trompetistas do gênero popular no Brasil e no mundo. No Jazz Trumpet do ano passado o convidado de honra foi o japonês Eric Miyashiro. Nesta edição 2014 o festival deu um bom passo à frente com a conquista do patrocínio da Yamaha Musical.
As marcas Weril e Adams montaram showroom na duração do festival que se encerra na noite desta quinta-feira. Enquanto músicos se desmanchavam de prazer no test drive do trompete de última geração da Adams, o empresário Leonardo contava passagens deliciosas de suas viagens pela Europa, inclusive sobre o dia e lugar onde resolveu batizar sua empresa com o nome Philharmonie.
Antes de subirmos para o auditório, na cantina lotada da faculdade o diretor de marketing Roberto Pinto contou à reportagem que entre as 109 escolas superiores de música autorizadas no Brasil, a Cantareira está no ranking das melhores.

Feitiço de band leader
Assistir a uma apresentação de Allen Vizzutti encanta os ouvidos e fascina os olhos. Dentro de sua camisa amarela Vizzutti extrai do trompete um pouco mais do que o instrumento pode render. Se entrega a cada música com o empenho de um trabalhador braçal. Meneia o corpo, marca o compasso com as mãos quando está livre do bocal, e chega mesmo a dar um ou outro breve grito quando o saxofonista da Speakin’Jazz, que o acompanha, dá estocadas no ar com notas ácidas.
Desafia os colegas de palco para virem à frente do palco, chamando pra briga, num alegre desafio de improvisos. Ele próprio lança seu instrumento para o alto quando satisfeito com alguma peripécia sua, depois de ter feito os pistos de seu trompete vibrarem em escalas inimagináveis.
Se os ouvidos da platéia são totalmente requisitados pela técnica faiscante de Vizzutti, os olhares não têm outra alternativa a não ser ficarem grudados na figura fantástica do músico. Pura veneração.
Top de lista no seu ofício, Allan Vizzutti, no entanto, não se faz de bam-bam-bam com os colegas que o escoltam na eletrizante aventura até o cume do jazz. Comanda todo o espetáculo com a maciez de um gerador elétrico, bem lubrificado.
Dois pensamentos me tocam ao ouvir Vizzutti em Georgia on my mind. Nove entre 10 pessoas atribuem essa música a Ray Charles, quando na verdade Ray só a gravou em setembro de 1960, trinta anos depois de composta. De autoria de Hoagy Carmichael com letra de Stuart Gorrell, já foi feita com jeitão de obra eterna, pois na primeira estrofe refere-se a sí própria como "uma velha e doce canção". O outro pensamento que me acorre perante o tom melífluo que Allen imprime em seu trompete neste número é que, se todo o árabe tem obrigação de ir a Meca pelo menos uma vez na vida, cada cidadão ocidental deveria ter o direito de ir a New Orleans ao menos uma noite na vida para ouvir clássicos do jazz como este. 
Interessante notar que durante a execução de Night in Tunisia, de Dizzy Gillespie, a maestria de Allen Vizzutti se mostrou generosa com Marcos Braga, chamado a um duelo de trompetes. Num determinado momento, quando Braga se volta para trás, olhando alguém ou alguma coisa na orquestra, Vizzutti o puxa pelo ombro enquanto desfere acordes alucinantes. Faz Marcos Braga voltar-se para a frente, como quem diz: “Mantenha o foco, my friend”.
Bonito também foi saber que no seu masterclass pela manhã, Allen Vizzutti elencou as coisas que julga mais importante na carreira de um músico. No que pode ser chamado "Os 5 Mandamentos de Vizzutti", ser um bom músico é o menos importante. Em primeiro lugar, diz Allen, você deve cercar-se de bons amigos e ser bom com cada um deles. Caso contrário, por melhor que você seja com seu instrumento, ninguém vai te dar oportunidades para tocar.
Araken (Yamaha Musical), maestro Edison, Rafael Dias,
Allen Vizzutti, Leandro Lima, Eliezer e Roberto Sales
Fiel ao seu sangue latino, Vizzutti ainda divertiu os expectadores “contando um caso” através do tubo do trompete, com direito a ilustrar as frases meio faladas/tocadas com largos gestos de mão, bem à moda italiana.
No corredor de saída, trocando impressões com companheiros de trabalho, o trompetista Walmir Gil comenta: “Não sei do que é feita a boca do Allen Vizzutti, mas de carne não deve ser”, brinca.
O público ovacionou em pé a hipnótica apresentação de Allen Vizzutti. Devíamos ter aplaudido ajoelhados.

Louvável pela iniciativa de criar o primeiro evento do Brasil voltado para o trompete popular, a organização todavia cometeu, ao menos na noite de ontem que a reportagem acompanhou, um pecado capital. Não havia no fundo do palco as logomarcas do patrocinador e da instituição que está acolhendo o festival.

Atriz Natasha Marques reinicia atividade de maquiadora

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"Todos os dias procuro me mexer", diz
Natasha. Foto: Facebook - 30.nov.2014
Este sábado, dia 29 de novembro, começou com temperatura amena e céu nublado.
Mas no círculo de amizades de Natasha Marques, os corações estavam ensolarados.
A atriz, que se recupera de um acidente, publicou em sua página no Facebook às 6h32 da manhã de ontem:
“Desde o dia 7 de abril até o dia de ontem eu não sabia o que era sustentar o peso do meu próprio corpo.
Ficar de pé sozinha...  Já é uma grande vitória pra mim.
Deus nunca falha. Deus está dentro do meu ser, mais vivo do que nunca, e meu sobrenome é força de vontade.
Devagar eu chego lá, sem medo!”

A artista atravessa a fase de cicatrização dos procedimentos cirúrgicos pelos quais tem passado nos últimos sete meses. Sua próxima operação plástica deverá ocorrer em cerca de quatro meses.
“Estou fazendo muita fisioterapia sozinha, com muita força de vontade. Todos os dias procuro me mexer”, conta Natasha.

Natasha se maquiando para encenar a Paixão de Cristo/2013
Afastada dos palcos, a atriz de 21 anos de idade que iniciou carreira aos nove, se concentra atualmente na sua segunda maior aptidão – a maquiagem. “Eu entrei no mundo da maquiagem um pouco depois de entrar no mundo do teatro. Eu tinha mania de comer os batons da minha mãe. Quando fiquei adolescente comecei a maquiar as amigas. Então fui à busca do que despertou uma paixão em mim. Me tornei maquiadora profissional”, relata Natasha, ressaltando que seus mestres nesta arte foram Gil Oliveira, Ivon Mendes e Daniel de Paula.
A atriz tem especializações em três diferentes áreas da maquiagem. E quer estudar novos aperfeiçoamentos. " O segredo é nunca achar que você sabe tudo. E sim buscar novos caminhos e formas. Se atualizando e melhorando sempre. É por aí que eu vou".
A novidade é que agora Natasha se dedica a dar aulas de maquiagem.
Maquiagem de Natasha Marques - Divulgação
“Ensinar é algo novo para mim. Mas maquiar é algo que fui desenvolvendo sempre. Procuro me arriscar e espero ajudar de verdade as meninas que estão estudando maquiagem comigo. Para que elas se sintam mais elegantes, bonitas, glamourosas e confiantes”, diz a nova mestra do make-up.
Os cursos podem ser online (mensalidade de R$ 60,00) ou presenciais (R$ 120,00/mês). “A pessoa pode vir na minha casa uma vez por semana e fazer aula de quantas horas for necessário”, explica Natasha.
Todos os cursos são contemplados com certificados de conclusão. 
No curso online há um sorteio semanal para a melhor maquiagem. “Sempre sorteio bons produtos pras minhas alunas. Afinal é uma forma de incentivá-las a praticar, já que é online e não estou vendo”, diz.
Tanto no presencial quanto no curso online há uma apostila criada pela própria professora. “Coloquei na apostila assuntos que julgo serem essenciais para um iniciante”, garante.
Antes de se acidentar, Natasha Marques, que é formada por escola autorizada em maquiagem, trabalhava diretamente com clientes, tanto pra teatro, books , desfiles de carnaval e moda, quanto para algo mais básico como casamentos e festas.

Com Caroline Rocino, funcionária do hospital onde se trata
Quando alguém se espanta pelo fato de ela ter sofrido acidente tão preocupante, e em poucos meses voltar à ativa, a garota é taxativa : “Se me perguntam: ‘Mas você não tá doente?’, respondo: Não estou doente. Estou em fase de recuperação de um acidente. Há dias em que estou com mais dor? Sim. Mas isso não impede que eu seja a mesma Natasha de antes. Aquela que corre atrás, faz de tudo, se vira, e gosta da correria. Sou uma pessoa agitada, e essas aulas de maquiagem são uma maneira de não ficar parada. Ocupar a mente. Está me fazendo bem. Então, o que eu posso fazer, eu tento fazer. Minha cabeça tá boa. Então, por que não trabalhá-la?”.

Enquanto manipula os apetrechos de pintura, Natasha vai maquinando novos planos. Quer compartilhar suas experiências após o acidente com um livro que talvez receba o título de Cronos e Narciso. E também pratica artesanato.
Como não gosta de televisão, se agarra ao notebook e às guloseimas. “Fico comendo”, diz divertida. “Fico na internet quase o dia todo, vendo somente coisas que me interessam”.
Se o baixo-astral tenta achar uma brecha em sua determinação, Natasha  tem a munição certa: “E tenho uma arma infalível. Meu sorriso não tem jeito. Ninguém derruba”.
Ator Max Neto maquiado por Natasha Marques. O impacto
da primeira grande maquiagem. Foto: Divulgação

A primeira grande experiência da moça na maquiagem artística foi na Encenação da Paixão de Cristo em 2013. [O espetáculo existe em Taboão da Serra há 58 anos]. “No ano passado maquiei o ator Max Neto, que interpretava um dos demônios que tentavam Jesus. Quando fiz a maquiagem do rosto deu uma vontade imensa de pintar o corpo. E comecei a pintar e quando vi, estava perfeito pra mim! Fiquei um tempão olhando pra ele assim...”, relembra.
A direção do espetáculo solicitou a Natasha Marques que o personagem tivesse uma maquiagem que lhe desse uma aparência de sem vida. “Eu como maquiadora obedeci a regra, porém coloquei meu toque ali. Pensei em tudo... na cena... nos movimentos dos bailarinos... nas cores que cabiam naqueles personagens. E quando vi o Max atuando, percebi que ele aparecia diante de Jesus de braços abertos... Como se o diabo já mostrasse pra Jesus como seria sua trajetória. Uma cena rica de significados. Então enlouqueci nas ideias. Enquanto eu maquiava ele, as ideias fluíram. Taquei sangue na minha mão e passei no peito dele.  Ficou uma imagem como se alguém tivesse passado a mão nele pedindo socorro. Utilizei material de maquiagem importado, da minha marca favorita, Catharine Hill, pela qual sou apaixonada. Eu fiz questão do material. O responsável pelos gastos da Encenação queria que eu comprasse qualquer coisa . Eu disse: ‘Não uso não uso porcaria’ (risos). Mas isso não quer dizer q eu só use marcas famosas. Que fique claro. Conheço produtos bons e baratos também. Mas para aquele espetáculo eu precisava de maquilagem com durabilidade...  Cores intensas! No dia da apresentação ele estava incrível. Com o corpo pintado e tudo. E nesse momento em que ele abria os braços dava pra ver as chagas que fiz em suas mãos. Fiquei demais!!!”, vibra com a lembrança.

Marqueteira que só ela, Natasha não deixa a entrevista acabar sem fazer – com todo direito – sua própria propaganda: “Coloca na reportagem o link da minha página pro pessoal curtir”.
Tá feito. Curtam aqui

As aulas online acontecem em grupo fechado no Facebook.
Fone para contato e inscrições: (11) 95827-7414
Leia o que já foi publicado sobre a atriz aqui

Grafiteiro de Taboão da Serra participou de maior festival 3D nos EUA

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Gláucio Santos nos Estados Unidos.
Foto: Bazou Garcia
Exatos dois anos atrás contei aqui no blog algumas peripécias do grafiteiro Gláucio Oliveira Santos. Ele começou nesta arte justamente num concurso de graffiti que criei em Taboão da Serra no ano 2000. Pois Gláucio continua “aprontando” das suas.
Neste mês de novembro o grafiteiro taboanense foi aos Estados Unidos participar do Sarasota Chalk Festival, realizado na cidade de Venice, no estado norte-americano da Flórida. O evento reuniu mais de 50 artistas de 15 países. Trata-se de desenhos tridimensionais em tamanhos gigantescos pintados diretamente no asfalto do estacionamento do aeroporto municipal e do Centro Cultural de Venice.  A proeza artística entrou para o livro de recordes Guinnes World.
“Fui eu quem introduziu a pintura anamórfica na arte de rua do Brasil”, garante Gláucio. Ele aprendeu esta técnica com Julian Beever, quando o artista inglês esteve em Curitiba (PR) em 2008. A pintura anamórfica cria uma ilusão de ótica em três dimensões (3D) quando a imagem é vista a partir de determinado ângulo.
Morador "entra" na pintura de Gláucio. Foto: Thiago Neme
Outro pioneirismo de Gláucio Santos foi pintar a primeira praça em 3D do Brasil. Antecipando-se ao clima da Copa do Mundo 2014, em maio deste ano Gláucio decorou a Praça Célio Malta, Jd Clementino, Taboão da Serra, com temas esportivos. A praça fica na Rua Tsuruki Tsuno, travessa da Estrada Kizaemon Takeuti, na altura da Escola Estadual Laurita Ortega Mari, atrás da qual está localizada a pintura interativa. As pessoas podem “entrar” no desenho e tirar fotos que dão a impressão nítida de estarem de fato batendo uma bola com o craque Garrincha.
Acima e abaixo, etapas do trabalho no festival dos EUA,
até a pintura poder receber visitantes. Fotos: Divulgação
O plano de Gláucio Santos é transformar a imagem dos moradores do Jd Clementino em obra de arte.
“Por enquanto só tem gente famosa no desenho. A ideia é retratar a comunidade na parede. É trazer a comunidade para dentro do cenário. Fazer com que eles sejam representados. Porque eles, os moradores, são famosos também”, afirma o grafiteiro.
Nascido no bairro paulistano do Jabaquara, Gláucio Santos criou-se em Taboão da Serra desde um ano de idade. 
Em 6 de janeiro completou 43 anos. Antes de ser grafiteiro dedicava-se à Educação Física e ao fisioculturismo, ganhando a vida como personal trainer
O bom condicionamento físico ajuda no seu ofício de artista, pois há trabalhos que cobram esforço quando pintados por vários dias agachado, ou escalando grandes alturas, conforme o serviço exija.

A pintura em 3D na art paviment(pintura sobre o leito das ruas) foi inventada em 1984 pelo norte-americano Kurt Wenner.
O festival  Art Paviment 3D de Venice foi criado em 2010.
Foi a primeira vez que Gláucio participou desta grande festa mundial. “Concluímos tudo em seis dias, eu e o Fabio Gonçalves. Agradecimento especial ao Senhor Bom Deus, e a todas as pessoas que nos ajudaram para que isto acontecesse. Queremos voltar ao festival em 2015”, conta o artista.

Recentemente Gláucio Santos foi convidado a ser colunista da revista de arte Bora Pintar.
Assista o vídeo onde o grafiteiro Fábio registra a emoção de ver o trabalho da parceria tendo reconhecimento internacional aqui

Leia mais sobre Gláucio Santos aqui aqui

Na Lapa, entre cordas e livros

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Quatro décadas atrás, biblioteca da Lapa tinha público maior que o atual.
Sistema Municipal de Bibliotecas busca atrair novos frequentadores

Hoje a discoteca municipal funciona
no Centro Cultural São Paulo, no
bairro Vergeiro
Fui lá. Na Lapa. Ontem. Fui porque Henriqueta me disse que queria ver a música escalar as paredes da biblioteca que ela dirige. Fui também porque a Lapa é a Lapa, e pronto. É o bairro seminal na literatura do meu idolatrado escritor e jornalista João Antônio. Foi lá onde ele cursou o ensino médio, e onde ambientou a sua primeira mais famosa obra literária – o conto Malagueta, Perus e Bacanaço.
A Biblioteca Mário Schenberg, a quem o povo chama pelo topônimo Biblioteca da Lapa, dirigida pela Henriqueta Marques, teve papel fundamental na minha adolescência. Eu saia de Taboão da Serra, pegava dois ônibus até a Lapa, só para usufruir de um recurso cultural que apenas aquela biblioteca oferecia.
Na época nem era chamada Biblioteca Mário Schenberg. Tinha outro nome. E eu nem ia lá atrás de livros (isso eu fazia na biblioteca com nome de outro Mário, o Andrade). Ia mesmo era no sexto andar daquele prédio da Rua Catão, onde funcionava a Discoteca Municipal de São Paulo ocupando dois andares. Acoplado à discoteca havia o Arquivo da Palavra, com vozes de pessoas renomadas, e gravações das pronúncias regionais do Brasil inteiro. Uma delícia ouvir aquela variedade louca de sotaques. 
No andar de cima nunca fui, mas sei que lá moravam os livros da biblioteca de música. A mim bastavam as 10 cabines de som do sexto andar e seus milhares de discos.
Em 1982 a discoteca foi transferida para o Centro Cultural São Paulo, no bairro Vergueiro.
Por isso achei divertido quando, na madrugada anterior, Henriqueta me escreveu: “Vou colocar o quarteto de cordas para tocar bem no meio do saguão de entrada. Tô imaginando a música subindo pelo prédio e envolvendo os livros nas estantes!”. A música já subiu aquelas paredes décadas atrás. E morou por 12 anos (1970 a 1982) no alto do velho edifício que no dia 23 de dezembro fará 61 anos de construção.
Vez em sempre Henriqueta me fala que precisa achar a verdadeira vocação daquela biblioteca. “A frequencia de público é baixa. Quero ver isto aqui sempre cheio de gente”, suspira a bibliotecária. Um rápido giro pelo arquivo de jornais antigos me conta que em 1975 a discoteca pública paulistana atendeu 65.811 pessoas. Quase 66 mil pessoas só na discoteca. Cerca de 70 mil consulentes subindo ao sexto andar. Não inclusos os frequentadores da biblioteca tradicional no mesmo prédio.
É este povaréu que Henriqueta quer de volta à sua biblioteca.
Quarteto de cordas Mivos Quartet, dos EUA, na biblioteca da Lapa.
Foto: David da Silva - 05.nov.2014

Ousados e ferozes
Quem foi à Biblioteca Mário Schenberg no início da tarde desta quarta-feira, 5 de novembro, pensando somente em relaxar ao som de violinos calmos, se surpreendeu. O Mivos Quartet, dos Estados Unidos, mescla atrevimento e uma certa fúria no jeito de tocar. É dos mais requisitados na atualidade em todo o mundo. Só de setembro para cá o quarteto de cordas tocou na Itália, Suíça, Alemanha, além dos constantes concertos que faz por toda a América do Norte. A biblioteca da Lapa ofereceu o espetáculo de graça.
Anteontem o grupo tocou na Biblioteca Monteiro Lobato, no centro de Sampa. Amanhã toca na Bahia.
Mariel Roberts (cello) e Olivia de Prato (violino)
Foto: David da Silva - 05.nov.2014
Mivos Quartet se dedica à música clássica moderna. Abriu a apresentação com String Quartet nº 3, de Philip Glass. Antes de cada execução, o músico Victor Lowrie (viola) faz uma breve explanação sobre o que vai ser tocado. Na segunda música, nosso orgulho de ser brasileiro. A composição Corde Vocaleé de Felipe Lara, 35 anos, nascido em Sorocaba (SP). Foi para os Estados Unidos em 1999 ao ganhar bolsa de estudos no Berklee College of Music, em Boston. Felipe Lara começou como guitarrista de rock; depois evoluiu para o jazz e a MPB. Hoje se dedica à música clássica de vanguarda. Corde Vocaleé o seu primeiro quarteto de cordas, feito em 2005.
Na terceira música, Victor Lowrie explica que Johann Sebastian Bach morreu justamente quando estava compondo os Contrapunctus– o Mivos Quartet executou o de número 9.
A última obra do concerto, de autoria de Taylor Brook, é inspirada em um conto do argentino Jorge Luis Borges. Com o mesmo título da obra referenciada, El Jardin de los Senderos que se Bifurcan(O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam) mostra em seu primeiro movimento a viola fazendo um chamamento, enquanto os outros três instrumentos respondem.
A musicista Olivia de Prato é uma atração dentro da atração. Nos prende a atenção seu modo vigoroso, extravagante e convincente de se agadanhar ao violino. É uma violinista encantadora. Ela nasceu na Áustria, cresceu na Itália, e mora nos Estados Unidos desde 2001.
A violoncelista Mariel Roberts é surpreendente por ser nova na idade, mas com muita maturidade na interpretação extremamente sensível.
O quarteto se completa com o brilhante violino de Joshua Modney.

Enquanto o Mivos Quartet tocava a obra de Taylor Brook, lembrei de uma tirada magnífica do Jorge Luis Borges. Perguntado sobre como achava que seria o Paraíso, respondeu: “Penso que o Paraíso deva ser uma espécie de biblioteca”.

É nesta concepção paradisíaca que a diretora-bibliotecária investe: “Estou ousada, né? Quero saraus de poesia de madrugada nessa biblioteca. E músicas também”.
Joshua Modney (violino) e Victor Lowrie (viola). Foto: David da Silva - 05.nov.2014
Foto: David da Silva - 05.nov.2014
Foto: David da Silva - 05.nov.2014
Foto: David da Silva - 05.nov.2014
Foto: David da Silva - 05.nov.2014

Desenhista de Taboão da Serra lança HQ em Sampa, sábado

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Bruno Hamzagic com o prêmio máximo do Salão
de Humor de Piracicaba em 2012. Foto: Divulgação
Que o desenhista Bruno e eu nos conhecemos desde 1998, já contei aqui. Mas hoje ficou reafirmada a certeza que o grande caricaturista Bruno Hamzagic guarda com certa ternura aquele velho tempo. Quando ele recebeu a primeira grana de sua vida com o trabalho de artista. E ficou na minha frente com cara de bobo, segurando o cheque. E rindo. Pois antes de fazer as ilustrações para o jornal que eu editava na época, o Bruno tentou ganhar uns trocados pintando faixas. Até daria certo, não fosse um pequeno entrave. Detalhista e caprichoso ao extremo, ele demorou três dias para entregar a faixa que em geral é pintada em uma ou duas horas. O negócio era mesmo se debruçar na prancheta e botar no papel seu talento caudaloso.
Amanhã, sábado 13 de dezembro, Bruno Hamzagic põe no mercado uma nova faceta de sua capacidade criadora. O primeiro volume das tirinhas Goiabada e Queijo Branco virá ao mundo na Feira de Quadrinhos Independentes, na zona norte de São Paulo (detalhes abaixo).
O casal-personagem
do livro de tirinhas
Quando dei a notícia do lançamento de seu livro no meu perfil do Facebook, Bruno retribuiu com uma generosidade que me faz compartir com os frequentadores desse blog-boteco:
“David! Suas palavras sempre me deixam sem palavras! Fiquei parado emocionado e lembrando daquele tempo! Saudades! Tudo o que acabo te escrevendo se torna pequeno frente ao que sinto. Realmente aquele primeiro salário parecia surreal, mas estava alí acontecendo e sempre fico renovando as memórias daquela época que só depois de viver nos damos conta de quão legal era!”

O início da carreira de desenhista de Bruno Hamzagic correu perigos de desvio da rota.
Apaixonado por trompete, chegou a integrar a banda sinfônica do maestro Edison Ferreira, criador da Associação Músicos do Futuro.
Para se sustentar, submeteu-se a serviço burocrático no INSS, e depois passou tempos fazendo cópias de mapas na Prefeitura de Taboão da Serra. O jornalzinho formato tablóide da associação dos funcionários municipais taboanenses, lhe deu asas. Primeiro colocado no Mapa Cultural Paulista deu o impulso que o levaria ao lugar de grande vencedor do cobiçado Salão Internacional de Humor de Piracicaba em 2012.
José Saramago, por Bruno Hamzagic
Hoje Hamzagic é um nome aplaudido nas artes gráficas do mundo todo.
Suas caricaturas campeãs remetem à técnica de desconstrução de figuras humanas celebrizada por Picasso. E mergulham os olhos do público no ambiente surreal consagrado por Salvador Dali.
Por isto pego de um artista espanhol um dos elogios mais entusiasmados sobre o taboanense ilustre: “O grande Bruno Hamzagic é um caricaturista genial, que ultrapassa os limites da caricatura convencional, levando-nos a extremos surrealistas. Tem uma qualidade excelente nas quais suas imagens não apenas impactam, mas também assombram e deleitam, mesmo pessoas sem grande conhecimento de artes plásticas. Revolucionário e maravilhoso em sua execução tanto técnica como na grande perspicácia e ideia do conceito em si”, escreve o desenhista Goyo Velas, de Santa Cruz do Tenerife, nas Ilhas Canárias, Espanha.
Bruno mistura técnicas de duas e três dimensões (2D e 3D). Esmiúça cada um dos traços dos personagens. Funde detalhes humanos com objetos. Está consolidado como artista de expressividade inconfundível.

Sobre as tirinhas que o artista trará à luz neste sábado, passo a palavra ao próprio autor: “Goiabada e Queijo Branco é uma tira permeada com humor leve, satirizando democraticamente o dia-a-dia de um casal jovem no mundo contemporâneo. Dois “trintões”, estão casados há mais de cinco anos e ambos, na medida do possível, possuem estabilidade profissional e financeira. Em cada sequência são abordados pormenores de situações da rotina matrimonial e individual, sendo desde o fato de desligar o despertador de manhã, achar um caminho no GPS, resolver um problema com a operadora de televisão por assinatura, até o simples fato de conseguir usar o banheiro. Longe de serem “Romeu & Julieta”, afinal nenhum dos dois é maníaco suicida. Sempre acabam no caminho do escárnio mais do que do romance, num amor bem humorado”, explica Bruno Hamzagic.
O artista revela que a publicação dessas tirinhas é algo que alucina sua vida “desde 2008, quando ainda eram rabiscos despretensiosos”.

Nascido de uma holandesa e com sobrenome iuguslavo, Bruno pode ser descrito com uma só palavra: gargalhada. Rí de tudo, e de toda e qualquer coisa ou pessoa. As gargalhadas do Bruno ficam gravadas definitivamente nos salões da memória de quem tenha a bênção de cruzar o seu caminho.

As tirinhas Goiabada e Queijo Branco já têm seu site oficial e também  

Serviço
Sessões de autógrafos do livro Goiabada e Queijo Branco, de Bruno Hamzagic
Feira de Quadrinhos independentes, pequenas editoras, publicações alternativas e Lançamentos
Sábado e Domingo, 13 e 14 de dezembro, das 10h às 18h.
BIBLIOTECA DE SÃO PAULO/ BSP
Parque da Juventude
Av. Cruzeiro do Sul, 2.630, Santana, São Paulo/SP
(ao lado da Estação Carandiru do Metrô)
Tel.: 11 2089 0800

Taboão da Serra ainda exporta ladrões de Rolex - IV

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Antes que você diga que estou louco repetindo manchete velha (em fevereiro passado fiz outra matéria com este mesmo título), prest’enção no detalhe da chamada. Esta aqui é a Parte Quatro de um longo acompanhamento que faço desde o ano 2007 sobre ladrões de Taboão da Serra especialistas em roubar relógios importados.
Quadrilha de Taboão da Serra estava "fazendo a festa"
em Belo Horizonte (MG). Foto: Divulgação
Foram presos horas atrás, na tarde desta segunda-feira, 15 de dezembro, três bandidos moradores de Taboão da Serra roubando na capital de Minas Gerais.
A quadrilha agia no setor centro-sul de Belo Horizonte. A especialidade do bando são relógios da marca Rolex. Um dos assaltantes apontou o revólver para subtrair o relógio de um motorista parado no cruzamento das avenidas Barão Homem de Melo com Raja Gabaglia. O criminoso fugiu em alta velocidade. Mas a vítima percebeu que o motoqueiro-ladrão estava sendo escoltado por um veículo Santa Fé, e conseguiu anotar a placa. A Rotam (Rondas Táticas Metropolitanas) esquadrinharam a região, e encontraram o carro do bando com dois ocupantes no bairro Estoril. O ladrão motorista estava com o relógio roubado no braço.
No hotel onde o grupo estava hospedado foram encontrados sete relógios Rolex, além de um revólver e dinheiro.
Segundo o tenente PM Josemir Rocha de Andrade, “a estratégia dos bandidos era sempre a mesma. Os indivíduos que estão no carro ficam dando voltas pelos bairros até identificar os motoristas ou passageiros com os relógios. Depois, acionam o motociclista que está próximo e este realiza o roubo. O relógio é repassado depois do trajeto para o chefe da corja que está no veículo”.
A identidade dos presos não foi divulgada para não atrapalhar as investigações. A polícia agora quer localizar e prender quem comprava os Rolex roubados pela quadrilha taboanense.

Ladrão tipo exportação
A matéria a que me referi na primeira linha desta postagem, foi publicada aqui no começo do ano. No dia 26 de fevereiro último um homem foi preso em Sorocaba (SP), a 95 quilômetros da capital. Seu nome também foi mantido em sigilo. Sim, ele também é morador de Taboão da Serra. E sim, também é graduado no roubo de Rolex.
Sempre trepado em sua moto o ladrão agia preferencialmente nas imediações de centros de compras. Ele confessou ter efetuado sete assaltos a motoristas que portavam os relógios importados.
O sujeito com identidade preservada informou aos policiais que um Rolex custa em torno de R$ 30 mil a R$ 40 mil; ele os vende ao receptador por R$ 6 mil cada um.
Caprichoso, o ladrão taboanense montou sua base (residência) no Alto da Boa Vista, bairro nobre, onde fica inclusive a prefeitura de Sorocaba. No esconderijo dele foram recuperados cinco relógios Rolex, revólver e alta soma em dinheiro.
Modesto, o meliante admitiu que recebeu um bom treinamento para reconhecer de longe relógios Rolex.
Outro ladrão residente em Taboão da Serra também se deu mal na capital mineira no final do ano passado. Amanhã, 16 de dezembro, vai fazer exatamente um ano que a PM de Belo Horizonte prendeu o baiano Manuel Raimundo de Abreu Costa, 37 anos. Igualmente perito na arte de roubar Rolex, Manuel, no entanto, cometeu um grande vacilo.
Ele saía todo dia para assaltar dirigindo um carro importado da marca Volkswagen Tinguan, avaliado em R$ 100 mil. A polícia não teve trabalho nenhum para chegar até Manuel. O carrão importado dele aparecia em todos os vídeos nos locais dos assaltos. Todas as investidas eram escoltadas por comparsas em motocicletas.
No hotel onde a quadrilha se amoitava foram encontrados vários documentos de carros e motos. A defesa do preso alega que ele atua no ramo de compra e venda de veículos importados.

Falei pra você que desde 2007 Taboão da Serra é conhecida como “a capital brasileira do Rolex”.
Em 3 de novembro de 2007 foram presos em Curitiba (PR) Alex Rodrigues Osmundo, vulgo Lecão, de 27 anos, e Altair Rogério Ribeiro, 35 anos. A casa deles caiu quando roubaram relógios das marcas Rolex e Cartier de um médico e uma advogada na capital paranaense. Os dois informaram ser moradores de Taboão da Serra.
Naquele mesmo ano de 2007 o caso com maior repercussão foi a “Operação Hora Certa”, montada pela Delegacia Seccional de Taboão da Serra – relembre aqui

A mordida cine-poética de Eduardo Sterzi em Taboão da Serra

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Eduardo Sterzi - Fotos: David da Silva
Oficina de Cinema criou curta-metragem inspirado em poema do autor gaúcho radicado em São Paulo

Ainda menino, já revelava talento precoce para os dois ofícios que abraçaria. Jornalista e autor de cinco livros de poemas e ensaios literários, Eduardo Sterzi, 41 anos, tem dois pós-doutorados em literatura, um no Brasil, outro na Itália. É professor de Literatura na UNICAMP. Domina os idiomas inglês, italiano, alemão, português, e espanhol. Seu primeiro livro conquistou o Prêmio Açorianos de Literatura na categoria Autor-Revelação em Poesia. Seu segundo livro de poesias foi o segundo colocado da sua categoria no Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional de 2010. Essa a grandeza do poeta que artistas de Taboão da Serra tiveram o desafio de converter em filme seu poema “Cuidado Ao Cão”.
“Na verdade acho que eu sempre escrevi. Foi a única coisa que pensei em ser na vida. Desde meus 8 a 9 anos de idade comecei a criar historinhas, pegar cadernos e montá-los em forma de livrinhos. Já ali pelo segundo ano de escola, estava criando. No terceiro ano do ensino fundamental comecei também a montar jornaizinhos impressos em mimeógrafo”, disse o autor na visita que fez a Taboão da Serra para conhecer a equipe criadora do curta-metragem O Cão que Morde Dentro, inspirado em uma poesia de seu livro Aleijão, lançado em 2009 pela editora 7 Letras.
Filmagem no Parque Rizzo, Embu das Artes

A Oficina de Cinema em Taboão da Serra foi desenvolvida entre os meses de abril a novembro. A proposta do projeto Cine(Poe)mas é transformar poesia em linguagem audiovisual. O projeto contemplou 32 cidades da Grande São Paulo. Foram selecionados 16 poemas de autores brasileiros vivos. Cada poema foi distribuído para duas cidades, o que gerou duas releituras distintas.
O poema de Eduardo Sterzi foi retrabalhado pelas oficinas de cinema das cidades de Taboão da Serra e Ferraz de Vasconcelos.
As filmagens do núcleo taboanense foram realizadas no próprio município e em Embu das Artes.

Generoso e acessível, Eduardo Sterzi fornece a chave para decifrar o poema escolhido para ser transformado em curto filme:
“Em 1999 eu tinha passado mais de um mês fora. Viajei aos Estados Unidos para me aperfeiçoar no idioma inglês. Quando voltei na casa da minha mãe, fui dar comida para o cachorro chamado Willy, da raça rottweiller, e ele me estranhou. Deu uma mordida. Não para machucar. Apenas porque não tinha me reconhecido. Mas por se tratar de um rottweiller o trauma foi grande. Acho que isto foi o que me mobilizou, e veio o poema”.


A inteligência poética é enfatizada na troca das preposições.
“O poema é justamente esta ambiguidade. Eu não digo ‘cuidado com o cão’. Digo: ‘cuidado aocão’. Tem uma carga simbólica aí. Cuidar bem do cachorro que toma conta da casa, mas também cuidar do cão que a gente tem dentro. Não é anular o bicho que todos temos dentro de nós. É saber lidar com ele. Se anulamos o bicho, também matamos uma parte da gente.”
Filmagens no Teatro Clariô, Taboão da Serra
Pego o livro de onde foi extraída a poesia para a Oficina de Cinema. Já na capa, o estranhamento. É uma foto que o próprio Eduardo Sterzi fez. Mostra o fragmento de algo medonho. Dentes quebrados e maxilar num esgar de fúria. Um buraco (abismo) onde deveria haver olho.
Neste livro não há lugar para certos tipos de ilusões. São poemas com a rudeza do que nos rodeia nos dias de hoje. Se há riscos imensos nas ruas, a casa também não nos põe menos inseguros. O inimigo pode estar entre as pedras do seu próprio lar.
Filmagem em ruas de Taboão da Serra

O livro foi produzido com a bolsa de criação literária ganha por Sterzi no Programa Petrobras Cultural 2006/2007.

Filho de ex-delegado de polícia que migrou para a advocacia depois de aposentar-se, e de uma professora que deixou a profissão para cuidar dos filhos, Eduardo Sterzi nasceu em Porto Alegre (RS) em 7 de junho de 1973 no bairro Petrópolis, bairro onde também morou o escritor Érico Veríssimo.
Entrou para a faculdade de jornalismo aos 17 anos de idade.
É autor de Prosa (poesia, 2001), Por que ler Dante (ensaio, 2008), A prova dos nove (ensaio, 2008) e Aleijão (poesia, 2009), além de ter organizado o livro Do céu do futuro: cinco ensaios sobre Augusto de Campos (2006). Também escreveu a peça teatral Cavalo Sopa Martelo, em 2011.
“Estou escrevendo agora um livro chamado Fim das Obras. Ainda não tenho editora para este livro que deve sair no ano que vem ou em 2016", informa o autor.
Eduardo Sterzi mora em São Paulo desde o ano 2001.
E já que estamos falando de cinema, que subam os créditos:
O poeta Sterzi e Manoel Ribeiro (da Poiesis) com parte da equipe da Oficina de Cinema em Taboão da Serra. Foto: David da Silva
Alunos do curso de produção e filmagem: Maira Galvão, Jackelyne Meira Ferreira, Ronaldo Antonio Jr, Carlão Ilustrador, Michele Rodrigues, Adriano Costa, Bruno Vieira, Ricardo Freitas Harry, Beatriz Barbosa e Lívia Andrade.

Atores convidados: Clayton Novais, Zulhie Vieira, Valter Costa, Vinicius Santos, Aparecido Silva Junior, José Walter Costa, Joelma Sales, João Oliva, Angela Maria, Fernanda Cândido Garcia, Washington Gabriel, Felipe Pereira Santos, Arthur Braga, Lu Rodarte, Adelmo Rosa Fernandes, Zé D’Lucena, alunos do curso de teatro pela prefeitura do Taboão da Serra e alunos da Escola Estadual Domingos Mignoni.

Ficha Técnica
O Cão Que Morde Dentro– curta-metragem baseado em poema de Eduardo Sterzi
Projeto Cine(Poe)mas – Curador: Roberto Zular
Coordenador em Taboão da Serra: José Maria de Lucena
Direção: Maira Galvão, Jackelyne Meira Ferreira e Ronaldo Antonio Jr. (assistente)
Produção Executiva: Michele Rodrigues
Produção: Maira Galvão, Jack Meira Ferreira, Bruno Vieira, Ronaldo Antonio Jr. e Dani Smith
Direção de Fotografia: Dani Smith
Assistentes de Fotografia: Maira Galvão e Jackelyne Meira Ferreira
Still: Carlão Ilustrador
Áudio: Homero B.S. Filho
Assistentes de Áudio: Jackelyne Meira Ferreira e Ronaldo Antonio Jr.
Trilha sonora: Maira Galvão, Jackelyne Meira Ferreira e Adriano Costa; orientador: Thiago Cury
Preparadoras de elenco: Maira Galvão e Dani Smith
Maquiagem: Jackelyne Meira Ferreira
Figurino: Jackelyne Meira Ferreira e Maira Galvão
Edição: Pedro Carvalho, Maira Galvão, Ronaldo Antonio Jr, Carlão Ilustrador, Adriano Costa, Livia Andrade e Ricardo Freitas Harry

Filme "A Sombra do Fogo" estreia 4ª-feira, no Canal Brasil

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Grande parte do elenco é de Taboão da Serra, cidade onde foi gravado o maior número de cenas

O sol bate forte na cara do vagabundo Rony. O barulho do despertador é um punhal em seus ouvidos. Arruinado de sono e de fome, ele se arrasta pra fora do finíssimo colchonete, prostrado no piso de um cubículo imundo. Espalhadas pelo chão da maloca, latas de cerveja vazias. Em vão cavuca o cigarrinho salvador no maço amassado de Hollywood. O jeito é salvar do cinzeiro uma bituca, acender a guimba, e se mandar para as ruas, ver no que vai dar.
Clayton Novais é Rony, em A Sombra do Fogo
Essa a primeira cena do trailer oficial do filme A Sombra do Fogo, do diretor Jean Grimard, que estreia na próxima 4ª-feira no Canal Brasil.
A população de Taboão da Serra vai se reconhecer no longa-metragem, nas cenas onde Rony (Clayton Novais) bate pernas pela cidade, numa viração sem fim.  A noite é o seu habitat. É das ruas mergulhadas no abandono que Rony arranca a sobrevivência. Onde às vezes se dá bem (mulheres, ou um dinheirinho à toa encontrado na sarjeta, ou um trambique aplicado com sucesso). E onde também pode se dar mal.
Além das locações em Taboão da Serra, o filme foi gravado no centro da Capital de São Paulo e no litoral sul do Estado.
Outra forte identificação dos taboanenses com o filme é o ator principal Clayton Novais. Conhecido do grande público pela sua atuação como personagem central da Paixão de Cristo– ele interpretou Jesus nos anos 2007, 2008, 2013, 2014 e volta ao papel na Sexta-Feira Santa deste ano.

A famosa frase “luzes, câmeras, ação” n’A Sombra do Fogo foi dita pela primeira vez na noite fria de uma 2ª-feira, 30 de julho de 2012.
O segundo dia de gravação, no domingo 19.ago.2012, levou a equipe para a Praça da Sé.
O roteiro mete o personagem Rony em várias confusões. Muitas bem engraçadas. Mas o próprio elenco não escapou de situações cômicas.
O trambiqueiro Rony tem como fiel parceiro de marotagens os vários personagens vividos pelo ator Luis Bezerra.
Na primeira noite de filmagem, Luis Bezerra interpretava o travesti Rosana. E não é que um transeunte se engraçou com o travéco? Tão convincente estava Luis Bezerra no papel, que o cidadão passou-lhe logo uma cantada.
Já na Praça da Sé, a dupla Clayton Novais (Rony) e Luis Bezerra (aqui fazendo o personagem Jonas) aplicava dois de seus melhores golpes para extorquir dinheiro das pessoas de boa fé: passar-se por pastores evangélicos ou cegos pedindo esmolas. Quando pararam de gravar como cegos, um policial deu o enquadro: “Mas vocês nem são cegos de verdade? Sabem o que pode acontecer se forem pegos? Vocês vão me dar trabalho?”. O PM não tinha se ligado que aquilo era uma cena de cinema.

A espontaneidade desempenhou papel importante na concepção e realização d’A Sombra do Fogo. A gênese da obra foi revelada dias atrás pelo diretor Jean Grimard em sua página no Facebook: “Primeiro diálogo do roteiro - Jean:‘Clayton, tá a fim de fazer uma espécie de teaserpara um projeto de longa?’. Clayton:‘Demorô’.”

Delegado Paschoal (Wlad Raeder) e Janete (Dora Nascimento)
Na sua danação diária para levantar dinheiro na moleza, Rony vai estabelecendo contato pessoal e contratos de malefícios com vários personagens da fauna urbana. Além dos já citados Jonas/Rosana, surgem em seus descaminhos Sandra (Márcia Nunes) mulher festeira viciada em drogas; a possessiva Janete (Dora Nascimento) que contrata Rony para assassinar uma garota, e o mendigo Sem (Zhé Gomes) que ensina Rony como sobreviver nas ruas.
Em uma das “etapas de vida” do malandro Rony, ele se torna um próspero pastor evangélico.
Mas mesmo cercado de tanta gente “boa”, ele logo se dá conta que dinheiro fácil = vida difícil.
Os personagens criados por Jean Grimard e Clayton Novais se aproximam bastante do universo dos livros de João Antonio. Pessoas postas à margem do Brasil urbano e industrial. Vagando sem cessar entre o mundo do trabalho e a vadiagem. Feito pêndulos desregulados entre as regras sociais e a vida largada, sem eira nem beira. Como definiu o próprio João Antonio: “em andanças aluadas e cinzentas... malandros, viradores, quebrados, quebradinhos pela noite de São Paulo”. Num angustiante ganha aqui, perde ali.
Os personagens são condenados a uma circularidade onde se misturam a vontade/obrigação de um sacanear o outro, mas também por vezes se irmanarem num ambiente fraterno, amoroso, embora a violência sempre ronde por perto. Naquilo que o crítico literário Antonio Cândido definiu como a “dialética da malandragem”.
Kawan Mattos com Apolo e Clayton Novais

Se Rony e seus comparsas se esgueiram pelas beiradas da sociedade, Jean Grimard e Clayton Novais também tiveram de se virar por fora do sistema. O filme não conta com nenhum incentivo de governo. Foi bancado por toda a equipe envolvida.
“Tratamos com naturalidade fatos que uma boa parte das pessoas não está acostumada a enxergar. Mostramos a realidade com humor cáustico, mas não ofensivo. Enfim: Rony é um solitário que redime o público de seu próprio riso”, diz a dupla de diretor e ator co-roteirista.

Raul e Pedro Bezerra
Imerso na sordidez dos falsos sentimentos e das más intenções, o filme, no entanto, conta com sadia estrutura familiar por trás das câmeras. O ambiente das filmagens foi contagiado pela alegria juvenil dos atores mirins Kawan Mattos, e os irmãos Raul e Pedro Bezerra, filhos do ator Luis Bezerra.
Até mesmo o cachorrinho do ator Clayton Novais foi para a frente das lentes – o cão Apolo “interpretou” a cadelinha Pimba.

A afinidade pessoal também cimentou a convivência entre a equipe técnica, o elenco e o grupo das participações especiais. São todos “cúmplices” da cultura periférica. Dividem o cotidiano da arte alternativa em Taboão da Serra, Campo Limpo e região.
Alexandre Souza, Alberto Jorge, Babi Soares e Léo Santiago
Com oito jornadas de filmagens até outubro de 2012, as gravações foram retomadas em janeiro do ano seguinte.
A esperada cena da praia foi concluída em uma única empreitada no 22º dia de filmagens em Peruíbe (SP), já no mês de abril de 2013.
Mas antes disso, a equipe já tinha passado por uma locação de filmagem prazerosa. O 19º dia de gravações foi no aconchegante Bar do Alemão, na Vila Iasi, Taboão da Serra.

Zhé Gomes interpreta o mendigo Sem
E como o personagem Rony é uma espécie de “vira lata humano”, bicho solto no mundo, nada mais natural que essa figura tomasse as rédeas de como sua história seria contada.
“A ideia inicial do roteiro era escrever um drama. A história do marginal Rony que tinha dificuldades, que fazia os seus trambiques, e que vivia a vida noturna, a vida boêmia de São Paulo. Mas à medida em que a gente foi escrevendo, fomos percebendo que algumas situações estavam ligadas mais ao humor do que necessariamente ao drama”, conta o diretor Jean Grimard.

Assista o trailer aqui

A Sombra do Fogo – O Filme
(Longa metragem da Cult Pictures, 2013)
Estreia nacional 4ª-feira, 21 de janeiro, às 22h
Canal Brasil
Reapresentações: 23 de janeiro às 04h00, e 27 de janeiro à 01h30
Também em transmissão online:

Com: Clayton Novais, Luis Bezerra, Márcia Nunes, Dora Nascimento, e Zhé Gomes.

Os "fiéis" da igreja do pastor Rony
Babi Soares, Wladimir Raeder, Alexandre Souza, Léo Santiago, Alberto Nogueira, Natália Romeiro, Rogério Gonzaga, Luciana Bejar, Mariano Martins, Loretta Puttini, Carolina Vanigli, Guilherme Alves, Lâina Silveira, Flávia D’Álima, Daniel Diez, Vera Diez, Walter Lins, Cláudio Bovo, Pedro Bezerra, Raul Bezerra, Jeff Mendes, Kawan Mattos, Renato Gomes, Diógenes Silva, Devaki Duslei, Adelmo Fernandes, Angela Maria, Desiréé Lindquist, Marco Pezão

Produção: Dora Nascimento
Roteiro e Produção Executiva: Jean Grimard Gauthereau e Clayton Novais
Direção: Jean Grimard Gauthereau

Crianças de Taboão da Serra serão retratadas em grafite gigante

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Já que a topografia de Taboão da Serra é acidentada, nada melhor que transformar suas encostas de morros em obras de arte.
Vista frontal da área a ser grafitada
Um barranco com cerca de 2 mil m² de área, na entrada dos bairros Sítio das Madres e Jardim Freitas Junior, será recoberto com grafite inspirado em quadros mundialmente famosos do italiano Leonardo da Vinci, do francês Manet, da mexicana Frida Kahlo, do holandês Vermeer, e do brasileiro Portinari.
Vista lateral da área do futuro grafite gigante
Na adaptação das obras para a arte mural, crianças do Sítio das Madres vão ocupar o lugar dos modelos utilizados originalmente pelos gênios da pintura universal.
Serão ao todo seis painéis gigantes, desenvolvidos pelo artista plástico Gláucio Santos. “Eu comecei no grafite graças ao jornalista David da Silva, que criou o primeiro concurso de grafitagem de Taboão da Serra no ano 2000. Este painel de grandes dimensões é minha retribuição à cidade que me projetou”, conta Gláucio. Ele pretende entregar a primeira parte do grafite gigante no aniversário de Taboão da Serra, em 19 de fevereiro.
Conheça mais sobre a trajetória de Gláucio no Brasil aqui e nos Estados Unidos aqui.

O trabalho de inclusão social por meio da Arte já foi feito com as crianças do Sítio das Madres. Antes de escolherem as obras em que serão retratadas, elas participaram de oficinas de pintura. Ali aprenderam um pouco da história dos artistas selecionados, com noções sobre a técnica utilizada por eles, e também sobre a época em que viveram.
O suporte para a primeira etapa da iniciativa, foi das moradoras Camila Brandão e Cláudia Almeida, organizadoras de festas comunitárias para crianças do bairro. As imagens das crianças caracterizadas para as reproduções são da fotógrafa Sabrina Maciel.
As crianças também participaram da confecção dos seus próprios figurinos. "Eu pedi colaboração das pessoas pelo Facebook. E alguns trajes para a caracterização das personagens foram feitos com lençóis ou cortinas das casas das crianças, e também usamos papel de jornal, cartolinas, e tudo o que aparecia", relata Camila Brandão, 26 anos, moradora no bairro há 20 anos.
Pelo seu caráter monumental, o projeto necessita, além do apoio da Prefeitura Municipal, da adesão de empresas e colaborações individuais.
Michele Daiane Juca Ferreira, 11 anos, será a “Moça com Brinco Pérola”, do holandês Johannes Vermeer. Ela é aluna da 7ª série da Escola Estadual Neusa Demétrio. Órfã do segurança Douglas Teodoro, filha da faxineira Rosineide Juca da Silva. O pintor Vermeer viveu de 1632 a 1675. Este quadro foi pintado provavelmente em 1665, mas não há registros precisos sobre isto.
Gláucio Santos (à esq) em oficina de pintura com crianças do bairro Sítio das Madres


Natália Brandão Araújo, 12 anos, será a “Monalisa”, inspirada na obra de Leonardo da Vinci. Estudante da 7ª série na Escola Estadual Neusa Demétrio, é filha de Camila Brandão. Considerado o quadro mais famoso do mundo, Leonardo da Vinci teria pintado essa obra no inverno ou verão de 1489, ou em 1503 – não há certeza sobre a data. Da Vinci viveu de 1452 a 1519.


Michael Douglas Juca Ferreira é irmão gêmeo de Michele (a menina do “Brinco Pérola”). Ele será “O Tocador de Pífaro”, do francês Édouard Manet. Pintada em 1866, nesta tela Manet retrata um menino humilde, músico anônimo que ganha a vida tocando pelas ruas. Na época a obra foi um escândalo, pois as pessoas acharam um absurdo o pintor fazer um quadro com uma pessoa que não fosse da classe nobre. Manet viveu de 1833 a 1883.

Katleen Cristina Hipólito Brandão, 9 anos, será "Nossa Senhora".
Ela é aluna da Escola Estadual Francisco Ferreira Paes.
Segundo uma tradição religiosa, este quadro seria uma cópia da pintura feita por São Lucas, autor do Evangelho que leva seu nome.

A obra também é conhecida como “Madona Negra de Czestochowa”, nome da cidade onde está exposta na região sul da Polônia.

Alice dos Santos Brandão, 10 anos, será caracterizada como a pintora mexicana Frida Kahlo.
É aluna da 5ª série da Escola Francisco Ferreira Paes. Filha do feirante Lucas Brandão Souza e da vendedora Andressa Lira dos Santos Silva.
Frida Kahlo gostava de transpor para sua obra os costumes e as cores do seu país, México. à esquerda, Frida fotografada pelo novaiorquino Nickolas Muray, em 1939.

Moisés de Oliveira Brandão, 7 anos, será o “Lavrador de Café”, pintado em 1934 por Cândido Portinari.
Aluno da 2ª série na E. E. Francisco Ferreira Paes. Filho do pedreiro José Paulino Brandão e de Adriana.
Portinari nasceu em 1903 e faleceu em 1962. Nos quadros em que retratava os lavradores de café, Portinari aumentava o tamanho do corpo de seus personagens, para mostrar a importância do trabalhador brasileiro.
As seis crianças do bairro Sítio das Madres a serem retratadas no grafite gigante. Ao fundo, o grafiteiro Gláucio Santos e a colaboradora Camila Brandão. - Foto: David da Silva
Contatos para adesão ao projeto e patrocínios:
(11) 98712-1919 (David da Silva)

Jussanam ganha prêmio internacional de música

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Jussanam Dejah: pronta para o mercado mundial da música
A cantora e compositora Jussanam Dejah, brasileira radicada na França, teve o seu samba Amanhã é Carnaval entre as cinco músicas vencedoras no Indaba Sync Featured Artist Contest. Composta em parceria com o islandês Ingvi Thor Kormarksson, a música foi escolhida entre 201 inscritas.
A premiação consiste na inclusão da composição no catálogo do Indaba. “Ser incluída neste catálogo, significa que o Indaba vai apresentar meu trabalho para a indústria internacional da música, para tentar vendê-lo a vários tipos de mídia, incluindo a indústria cinematográfica e o mercado da publicidade. Nunca sabemos o que isso pode dar, mas estou super feliz por ter sido premiada”, comemora Jussanam.
O prêmio também inclui a produção de um vídeo nos Estados Unidos, gravado ao vivo em Nova York. Além da brasileira, o prêmio foi para dois músicos norte-americanos e outro de Cingapura.

Antenada
Antes de morar na França, a carioca Jussanam Dejah viveu na Islândia a partir de fevereiro de 2008. Ela agora mora em Cannes, no sul da França, para onde foi ao ser contemplada com uma bolsa para aperfeiçoamento artístico.
Jussanam teve ampla repercussão na imprensa da Islândia
Antes de sair da Islândia, Jussanam enfrentou e venceu uma árdua batalha para conquistar o título de cidadã daquele país. Sua luta despertou o apoio da classe artística, sindicatos de trabalhadores, políticos e pessoas do povo, e agora ela tem dupla cidadania brasileira-islandesa – veja o link no rodapé da postagem.
Sobre os recentes acontecimentos com o atentado terrorista ao jornal satírico Charlie Hebdo, Jussanam conta: “Eu sempre fui admiradora da França. E agora vivendo aqui posso dizer que realmente continuo apreciando a mentalidade desse povo. Os franceses estão mais preocupados com a segurança, mas a França está também mais unida e orgulhosa de seus valores”. 
A distância de sua casa atual com a sua terra natal não impede Jussanam de ficar com os olhos atentos ao que acontece aqui. “Lamento tudo o que tem acontecido no Brasil em termos políticos, econômicos e as mortes diárias por causa da violência”, diz a cantora. “Uma voz grita dentro de mim. Quem dera um dia eu poder ver meu povo brasileiro unido como vi o povo islandês após a crise em 2008, e agora na França depois desse atentado”.
Sobre os escândalos políticos brasileiros, a irritação de Jussanam entrou em ebulição dias atrás, ao assistir uma entrevista da professora Maria Estela Basso. Doutora em direito internacional, Maria Estela explicou que os empréstimos do governo do PT feitos a Cuba e à Venezuela deveriam ter sido aprovados pela Câmara e o Senado Federal. “Estou longe do Brasil, mas minha indignação cresce a cada dia. E o Congresso Nacional, por que não age? Que desgosto!”.

Ouça Jussanam Dejah no samba premiado Amanhã é Carnaval, com: guitarra: Asgeir Asgeirsson – contrabaixo: Birgir Bragason – bateria: Mathias Hemstock – percussão: Cheick Bangoura. Música de Ingvi Thor Kormarksson. Letra de Jussanam.

Acompanhe Jussanam no facebook
Veja as 23 matérias que já escrevi sobre ela aqui

Silvio Modesto canta nesta quinta, no Sesc-Osasco

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Foto: TV Cultura | São Paulo
Eu já narrei várias histórias do sambista Silvio Modesto aqui no blog.
Hoje eu vou contar pra você do dia em que, pela primeira vez na vida, o Silvio ouviu uma música dele tocar no rádio.
Mas antes vou logo lhe avisando que o meu amigo sambista, prestes a completar 71 anos em fevereiro próximo, vai se apresentar nesta 5ª-feira, 29 de janeiro, no Sesc-Osasco.

Numa certa manhã do ano 1971, Silvio Modesto ainda estava deitado num minúsculo quartinho na Rua Brigadeiro Galvão, bairro Barra Funda, zona oeste de São Paulo. “Eu dividia o quarto com meu amigo Talismã, que também era sambista compositor; só tinha uma cama de solteiro pra nós dois dormir”, relembra Modesto. Por volta das 9h da manhã, o radinho de pilha sintonizado na Rádio Bandeirantes começa a tocar uma música. Silvio dá um pulo da cama. “Êpa... eu conheço isso aí...”.  Era a sua composição Lágrimas, feita em parceria com Jangada, nome artístico do jornalista carioca Marco Aurélio Guimarães. “Eu nem imaginava que aquela música fosse realmente ser gravada. O cantor falou comigo, e coisa e tal, ele foi embora e eu continuei na minha. Até que ouvi no rádio”, diz o compositor. O jeito foi sair para comprar uma garrafa de cachaça em comemoração. “Era só o que dava pra comprar, na dureza danada que a gente vivia”, se diverte com a lembrança Silvio Modesto.
Nascido em 1944 no bairro Brás de Pina, no Rio, Silvio foi criado no Morro do Salgueiro. Com 20 e poucos anos de idade se mandou para São Paulo. E aqui se firmou como “o mais completo sambista carioca da capital paulista”, na avaliação inquestionável do dramaturgo Plínio Marcos.
Selo do disco com a primeira música gravada de Silvio Modesto
Silvio Modesto havia mostrado aquela música um ano antes, em 1970, para o cantor Franco no bar Boca da Noite, na Rua Santo Antonio, no bairro Bela Vista (popular Bixiga), zona boêmia paulistana. Na época, a moda era o samba-rock. Franco estava iniciando carreira solo, após o grupo Brasas, que tinha fundado em Porto Alegre, se separar. (Franco é pai dos integrantes do grupo KLB. Ao parar de cantar, tornou-se empresário de Fábio Jr, Leandro e Leonardo e hoje administra a carreira da dupla Zezé di Camargo e Luciano). “O Franco falou pra mim que ia gravar aquele samba. Mas meu negócio na época era só cantar e me soltar pela noite. Naquela fase da minha vida eu estava sem pretensão nenhuma. Mostrei o samba pro Franco, e como passou um ano sem ninguém falar mais nada, deixei o assunto pra lá”, conta Silvio.
Não é difícil imaginar a emoção que Silvio, na ocasião já com 27 anos, e precisando se firmar na vida, viu se abrir para ele as portas do mercado fonográfico.
Hoje Silvio Modesto tem composições suas nas vozes de Beth Carvalho, Benito di Paula, Bezerra da Silva, Arlindo Cruz, Jovelina Pérola Negra, Originais do Samba, e outros mais.
Seu nome é uma lenda no Carnaval de São Paulo. Participou ativamente de escolas de samba como Império do Cambuci, Vai-Vai, Pérola Negra, e por aí afora.
Nos concursos para escolha de sambas-enredo, o nome de Silvio Modesto na lista dos inscritos fazia a concorrência suar os dedos. “Sempre tive facilidade para fazer samba enredo”, diz Modesto sem falsa modéstia. “O grande desafio é pegar toda aquela pesquisa que o carnavalesco faz, ser ligeiro nas ideias e resumir aquelas mais de três mil linhas do texto em no máximo 30 versos, com melodia bem gostosa para o povo cantar”, explica o sambista. Fala assim como se fosse a coisa mais fácil do mundo... Ele já venceu 21 campeonatos de samba enredo – 18 em São Paulo, e três no Rio.

Não bastasse seu dom para o samba enredo e também para sambas de meio do ano, Silvio Modesto foi um ritmista de respeito e muito requisitado. Basta dizer que ele estava no palco do Ópera Cabaré, em São Paulo, naquele 30 de dezembro de 1978 acompanhando Cartola no último show da vida do imortal autor de As Rosas não Falam.
Ele também fez, entre outras tantas gravações de estúdio, o ritmo no disco Pecado, lançado por Ney Matogrosso em 1977.
Também foi o ritmista de todos os programas da série Ensaio, da TV Cultura de São Paulo, quando os entrevistados eram acompanhados pelo Regional do Evandro.

João Borba e Silvio Modesto
No show desta 5ª-feira, Silvio Modesto é o convidado especial do festejado cantor e compositor João Borba. Aos 87 anos de idade e em plena atividade, Borba pertenceu ao grupo de teatro de Solano Trindade.

Serviço:
João Borba recebe Silvio Modesto
Sesc-Osasco– dia 29 janeiro (5ª-feira), às 19h
Ingresso: Grátis
Av. Sport Club Corinthians Paulista, 1300
Osasco
Saiba como chegar clicando em “ver no mapa” aqui
Informações: (11) 3184-0900

Leia outras postagens sobre Silvio Modesto no bar & lanches taboão aqui

O que a torneira seca tem a ver com Sandy & Junior?

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Vejo pouco hoje em dia por aí citação sobre um filminho patético, mas profético estrelado pela dupla Sandy e Junior, no longínquo ano 2003.
Já na época, o longa-metragem Acquarialidava com o colapso no abastecimento de água.
E por que filme assim tão premonitório não volta com tudo às telas?
É porque o filme é ruinzim.
Não, senhora. Não assisti todos os 103 minutos do filme. Não tenho tanto pecado assim pra pagar.
Na mistura de aventura com ficção científica, o roteiro de Cláudio Galperin e Flávia Moraes (que também dirige o filme) teve o mérito de levantar com mais de uma década de antecedência o assunto que hoje nos aflige. Quando nem se poupava saliva com isto. Mas o filme resultou intragável até para fãs da Sandy.
Não por falta de recursos.
Acquaria mandou R$ 9 milhões pelo ralo. Um dos orçamentos mais caros do cinema brasileiro. Segundo a Agência Nacional de Cinema (Ancine) de 1995 a 2013 só cinco filmes gravitaram em torno deste valor. Nada adiantou torrarem R$ 2 milhões com mídia e divulgação. O filméco afundou nas bilheterias.

Com a Terra toda inteira devastada pela falta d’água, os irmãos Sandy e Junior, interpretando Sarah e Kim, respectivamente, transitam entre nomes consagrados do cinema brasileiro como Milton Gonçalves, Julia Lemmertz e Alexandre Borges.
Além do elenco estelar, a equipe técnica ocupou 203 profissionais de cenografia, produção, figurino e um pequeno exército de marceneiros.

Apesar da louvável preocupação com a seca que afinal chegou 12 anos depois do filme, o orçamento mostra uma planilha de custos pouco ecológica. Nas oito semanas de gravações, construíram três grandes estúdios exclusivamente para o filme. Utilizaram mais de mil toneladas de areia para simular deserto. Gastaram-se milhares de litros de água, e barras de gelo com dois metros de altura.
Nas cenas externas, ao invés de irem pro Nordeste, se mandaram para o Chile. Ignoraram solenemente o estudo da Universidade Federal de Alagoas que detectou 230 mil quilômetros quadrados de áreas desertificadas em quatro grandes localidades brasileiras (uma no Piauí, outra no Ceará e duas em Pernambuco). Além disso, a própria Alagoas está com 62% dos seus municípios em pré-desertificação. No trecho entre Santana do Ipanema, Olho D’Água das Flores e Olivença, pode o céu cansar de chover, que a terra “nem te ligo”. O solo já não reage mais à água; nasce mais nada lá, de jeito nenhum.
Mesmo assim, os filhinhos do Xororó foram filmar no deserto chileno de Atacama.

A equipe criadora do filme imaginou ganhar grana milionária com a obra. Firmaram cerca de 20 contratos, para comercializar 150 produtos relacionados ao filme. Sonhavam embolsar R$ 5 milhões de reais só com cadernos escolares, agendinhas, joguinhos, papel-carta, caixinhas para presentes, figurinhas, chicletes, alicatinhos de unha.... Fracasso total.

Além de desinfantilizar seus pimpolhos, o esquema de Xororó era montar a carreira internacional para Sandy, então já com 20 aninhos, e Junior, com 19. Chegou nem no Paraguai o infeliz do filme.
Indicado a seis prêmios, sabe quantos o filme ganhou? Nenhum. (Tô mentindo. Ganhou o de melhor fotografia num concurso do Sesi). Mas nem o Prêmio Avon de Maquiagem o bendito ganhou.

Se quiser aumentar a sua raiva do Alckmin pela água escassa, assista o filme na íntegraaqui

Fotógrafo de Taboão ganha violão autografado do compositor Toquinho em concurso

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Ricardo Biserra e Toquinho
Uma demonstração visual de amor por São Paulo. Este foi o tema do concurso cultural realizado pela casa de shows Terra da Garoa, localizada no centro da capital paulista. O prêmio pela foto vencedora foi um violão autografado pelo cantor, compositor e violonista Toquinho, consagrado pela sua parceria com Vinícius de Moraes. O concurso foi uma homenagem aos 461 anos de fundação da cidade, comemorados em janeiro.
O fotógrafo Ricardo Biserra é um apaixonado por São Paulo. Percorre as ruas da metrópole paulistana com olhos de paquerador de prédios. Captura com suas lentes detalhes que geralmente passam despercebidos.
Crianças brincam em piscina instalada no Minhocão em março de 2014,
no projeto realizado pela arquiteta Luana Geiger. Foto: Ricardo Biserra
Ricardo Biserra é morador de Taboão da Serra, município onde estudou na Escola Estadual Wandick de Freitas, turma de 1985. Fotógrafo, publicitário, locutor e dublador, cursou marketing na Uniban (turma de 2010) e MBA na Anhanguera (2012).
“Sou um apaixonado pela vida, por cinema, musica e literatura. Na Fotografia, ando sempre à procura do inédito, do simples e do surpreendente”, se auto define o artista.
Na foto premiada com o violão autografado por Toquinho, Ricardo Biserra focou em um grupo de crianças se divertindo numa piscina montada no elevado Costa e Silva, o popular Minhocão, no centro paulistano. É a maneira de ele dizer que com toda a aspereza urbana, convulsionada por manifestações populares e enchentes, existe espaço para o amor em São Paulo.
O fotógrafo tem na sua página em rede social algumas amostras de seu trabalho. 
Quem tiver interesse em fotos suas para decorar casa ou escritório, pode chamá-lo inbox, ou pelo e-mail ricbiserra@gmail.com

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Artistas de Taboão e Embu ganham verbas da Cultura estadual

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O Programa de Ação Cultural (ProAC) da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo premiou artistas e coletivos culturais das cidades de Taboão da Serra e Embu das Artes com dinheiro para a realização de seus projetos em 2015. Eles foram contemplados na modalidade ProAC-Editais. Já na modalidade ProAC-ICMS, o município de Taboão da Serra teve aprovada a montagem da comédia Pedro e Domitila, sobre o relacionamento do imperador Pedro I com a Marquesa de Santos. Nesta modalidade, o grupo não recebe dinheiro vivo, e sim a autorização para captar recursos junto a empresas. A trupe coordenada por José Maria Lucena está habilitada a buscar R$ 98.400,00 com patrocinadores.
Criado em 2006, o ProAC favorece todos os tipos de manifestações artísticas. Para concorrer ao benefício, o artista ou grupo cultural se inscreve gratuitamente. O ProAC-Editais funciona por meio de concursos públicos, em prazos específicos. No ProAC-ICMS as inscrições estarão abertas a partir de 2ª-feira, 9 de fevereiro, e vão até outubro.
Em 2014, a Secretaria da Cultura do Estado destinou R$ 44 milhões para 690 projetos distribuídos em 48 categorias.
Mesmo não sendo de Taboão da Serra ou Embu das Artes, dois coletivos de saraus culturais merecem destaque nesta matéria. Eles são da região do bairro Campo Limpo, e têm ligação orgânica com o meio artístico taboanense. O Sarau do Binho, do poeta Robinson Padial, e o Praçarau, do fotógrafo Rogério Gonzaga, foram contemplados com R$ 40 mil cada um. Eles concorreram com 64 projetos inscritos. A partir de 2014, o ProAC exige que 50% dos saraus aprovados sejam de fora do município de São Paulo.
Outro nome importante na cultura periférica da nossa região pode ter uma grande conquista em 2015. Marco Pezão, cronista esportivo, fotógrafo e poeta fundador da Cooperifa, concorre ao Prêmio Governador do Estado.

Os premiados do ProAC-Editais
Na categoria Produção e Apresentações de Número Circense, o prêmio de R$ 15 mil veio para “Doce Ilusão”, de Priscila Vasconcelos de Freitas, de Taboão da Serra. Ela foi uma das 30 aprovadas no concurso que teve 95 inscritos.
Outro prêmio para Taboão da Serra foi na categoria Histórias em Quadrinhos. Marcelo Scaff Marques é um dos 20 projetos aprovados dentre 169 inscritos. Vai receber R$ R$ 40 mil pela obra “Arlequins, Pierrôs e Colombinas”.
Em Embu das Artes, Rodrigo Bianchini, da Cia AsSimétrica, teve aprovado o projeto “SerTão de Vidro: Periférico”, com verba de R$ 50 mil. Foi um dos 20 aprovados entre 267 concorrentes.
Na categoria Promoção e Proteção das Culturas Negras, o prêmio de R$ 40 mil foi para Solemar Cristina da Silva, de Embu das Artes. O VI Encontro Paulista de Jongueiros foi um dos 20 projetos aprovados entre os 185 inscritos. Nesta mesma categoria, e também de Embu das Artes, a sexta suplência está com o projeto “Ritmo e Movimento dos Orixás”, do Teatro Popular Solano Trindade.
Se ficou na suplência da categoria citada acima, a legendária Raquel Trindade de Souza venceu na categoria Promoção das Culturas Populares e Tradicionais.. O projeto “Brasil Terreiro de Brinquedos e Magia” foi premiado com R$ 40 mil, sendo um dos 25 aprovados entre 205 que entraram na disputa. Na mesma categoria, na terceira suplência está Jeferson Virmondes da Costa, também de Embu das Artes, com o projeto “Ganga-Zumbá”.
Também de Embu das Artes é o vencedor na categoria Telefilme. O projeto “Os Óculos – A Janela” recebe R$ 40 mil, sendo um dos 10 aprovados entre 85 concorrentes.
Na categoria Bolsa de Incentivo à Criação Infantil e/ou Juvenil, o prêmio de R$ 10 mil foi para São Lourenço da Serra. Ana Cristina Araújo Ayer de Oliveira venceu com o projeto “Maria Antonieta e o Gnomo”, sendo um dos 10 projetos aprovados entre 117 inscritos.

Apesar de não estarem entre os primeiros classificados, também tiveram bom desempenho no ProAc-2014 dois taboanenses. Jamesson Rocha de Santana é primeiro suplente na categoria Artes Integradas, e Andressa Lima dos Santos é suplente na categoria Moda, Gastronomia e Cultura Digital, com o projeto “A Cultura Popular e seus Sabores”, com o Bando Trapos. Nada mal se avaliarmos que Jamesson entrou na disputa com 206 inscritos, e Andressa teve 86 concorrentes. Isto lhes serve de estímulo para aprimorar seus projetos e virem firmes na briga pelo ProAC-2015.

As peripécias do poeta Binho quando moço

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Robinson Padial, o poeta Binho
Fiz esta entrevista com o poeta Binho em 19 de novembro de 2014, dias antes de ele completar 50 anos. Publico agora porque o Sarau que leva seu nome retoma as atividades na próxima 2ª-feira, 9 de fevereiro.
Nosso bate-papo se deu no Bar Fecha-Nunca do Campo Limpo. Bairro onde Binho nasceu e onde se mantém firmemente ancorado, independentemente de suas perambulações pela poesia e pelo mundo.

“Meu nome é Robinson de Oliveira Padial. Nasci em novembro de 1964. Meu pai chamava-se Joaquim Antonio Padial, o popular Mestiço. Ele nasceu em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Minha mãe chamava-se Hilda Vasconcelos de Oliveira Padial, nascida em Tambaú (SP), terra do padre Donizete. Não sei com que idade eles saíram dos lugares onde nasceram para vir morar em São Paulo.

“Meu pai conheceu minha mãe num trem da Sorocabana, parece. Acho que marcaram uma ponta, e...”.
“Meu pai morreu faz 15 anos. Faleceu em 1999 com 70 anos. Teve um câncer, e depois morreu devido a problemas do pulmão. Ele fumava muito. Minha mãe também fumava. Os dois sempre fumaram. Ela morreu em 1994 com 68 anos, talvez devido ao cigarro, provavelmente”.

“Minha família morava na Rua Antonio Antunes [Vila Pirajuçara, Campo Limpo]. Minha mãe foi me dar à luz em Taboão da Serra. Eu só nasci lá, pois a gente morou sempre aqui no Campo Limpo”.

Mestiço, pai do Binho
“Quando eu nasci, meu pai trabalhava com corretagem de imóveis. Não sei se a imobiliária era dele. Depois ele abriu a própria imobiliária, chamada “Irmãos Mestiço”, junto com o irmão dele, Antonio”.
“Antes de eu nascer, minha mãe chegou a trabalhar em auxiliar de enfermagem no Hospital das Clínicas. Mas depois só se dedicou a cuidar da casa e dos filhos”.
“Somos em cinco irmãos, uma escadinha. Diane, Lola, depois vem o João [havia falecido meses antes da entrevista], eu, e o Rodolfo, que quase ninguém daqui da região conhece; mora lá pra São Bernardo [região do ABC da Grande São Paulo], vem pouco aqui”.

“Na minha época de moleque, o Campo Limpo estava muito no começo. Tinha os rios aí pra trás, tinha as  lagoas. Aquela mata que você tá vendo ali ainda [aponta para os lados de Taboão da Serra] ali pra trás tinha as lagoas, naquelas quebradas. Eu saia daqui, perto da atual delegacia [de Polícia] onde eu morava, e a gente ia lá pro Parque Pinheiros. Tudo escondido da mãe. Sumia no mundo com a molecada do bairro. Diziam: ‘Tem uma lagoa lá”. A gente ia. A gente atravessava o córrego [Pirajuçara] e ia. Na época que não chovia, dava pra atravessar o córrego com água pela canela. O córrego era fedido, já. Não como é hoje, mas já fedia, água turva. Nas lagoas era perigoso pra caramba. Chegou a morrer gente lá. Aí a gente ficou com medo, parou de ir.”
Foto dedicada por Mestiço, pai do Binho, aos funcionários da
primeira linha de ônibus que ligou o Campo Limpo com Pinheiros
.
“A escola onde aprendi a escrever ficava nos fundos de onde é hoje o Terminal Campo Limpo de ônibus. Entrei na escola com seis anos e um pouquinho. A escola era um barraquinho de madeira. Minha primeira professora foi a dona Marli Rea. A gente fazia o primeiro ano lá, e aí no segundo ano você subia para o prédio da escola Kennedy. A escolinha de madeira também chamava Kennedy, mas a gente começava lá e vinha aqui pra cima, perto da igreja católica.
No segundo ano minha professora foi Heloisa. Não esqueço dela porque uma vez eu estava com a mão no nariz, e ela me recriminou, fez uma cara muito feia, e eu moleque tirando caquinha; nunca esqueço disso”.

“A minha infância foi toda sempre muito concentrada nessa área aqui. Onde tinha o campinho... eu gostava muito de jogar bola. Então, eu amava tanto jogar bola, que meu mundo foi aquele. Eu não saia muito do foco. Eu era livre ali, né? Era muito espaço. O campinho ficava onde hoje é o estacionamento das viaturas da Delegacia de Polícia do Campo Limpo.

“Quando moleque a gente não ficava vacilando na rua. Porque tinha muito medo do Juizado de Menores. Carteira de trabalho assinada também era importante pra gente. Com 14 anos você tinha que ter carteira assinada. Se te pegassem na rua com 14 anos sem carteira assinada, você já ia ter problemas”.

“Meu primeiro contato com o Poder do Estado, minha noção de existência de autoridades, foi por volta dos meus 11 a 12 anos, quando asfaltou a Rua Jacaratinga, e ainda nem tinha a delegacia lá. A gente estava brincando de carrinho de rolemã, e veio uns polícias encher o saco. Daí eu lembro que meu irmão por parte de pai, o Geraldão, quando os policiais mandaram a gente parar de brincar em cima do asfalto novo, meu irmão Geraldo falou: “Chama o Jesus lá que encavalou a marcha”. Ele falava muito na gíria. “Encavalou a marcha” era o jeito de dizer que tinha surgido complicação. Esse meu irmão por parte de pai era maloqueirão de tudo. Frequentava muito o campo de futebol do time Martinica. Ele foi nascido e criado lá pelos lados do bairro da Lapa [zona oeste da capital São Paulo]. O apelido dele era Morcegão. Era filho do meu pai com a dona Ditinha. Daí quando a polícia embaçou com nossos carrinhos de rolemã, o Geraldão mandou a gente chamar o Jesus, que era meu outro irmão. Filho do meu pai também com a Ditinha. Os policiais não mexeram com a gente; só mandaram parar com os carrinhos de rolemã. Mas quiseram pegar o Geraldão. Só que ele era muito forte, começou sacolejar os caras. Aí chegou mais gente, a turma do ‘deixa pra lá’.
Anúncio do pai de Binho, reproduzido

no livro Bebel que a Cidade Comeu,

de Ignácio de Loyola Brandão

“Meu pai teve além de nós cinco, filhos com várias mulheres. De casamentos antes da minha mãe, e depois de casado. Ele era muito mulherengo. Tinha amantes pra todo lado. Não era rico, mas tinha uma grana, trabalhava sempre, se virava bem, e o dinheiro facilitava os romances. Com a dona Ditinha meu pai teve três filhos: o Geraldão, o Jesus, e outro. Minha mãe adotou eles todos. Minha mãe era demais. Ela adotou as crianças não sei se porque ela gostava muito do meu pai, ou se foi por dó da molecada.
Quando eu era menino, talvez 14 anos, não sei que ano foi, chegou em casa um outro irmão meu, o Gino. Ficou o dia inteiro rondando a nossa casa, sem falar nada com ninguém. Ele era filho do meu pai com uma mulher lá do bairro Jabaquara. Quando meu pai chegou de tardezinha, foi colocar o carro Dodge Dart na garagem (ou talvez fosse Dodge Charger, não sei. Só sei que era carrão), daí o rapaz chegou nele: “Eu sou o Gino. Sou seu filho”. Assim, na lata, desse jeito. Meu pai tomou um susto, né, meu? O rapaz já tava na faixa dos seus 19 anos, por aí. Hoje esse Gino trabalha na Amazônia, gerente na área de marketing da Rede Globo.

“Meu pai teve a primeira farmácia aqui do Campo Limpo. Ele entendia bastante desse negócio de remédios, medir pressão, aplicava injeção em todo mundo. Tinha bastante prática nisso”.
Da minha época de menino não me lembro dessa farmácia. Quando comecei a tomar noção do mundo, meu pai já tinha montado a imobiliária. Inclusive tem um livro do Ignácio de Loyola Brandão, o romance Bebel que a Cidade Comeu, onde tem a reprodução de uma propaganda da imobiliária do meu pai. [No seu romance de estreia, Ignácio de Loyola Brandão usou a técnica de entremear a ficção com recortes de anúncios de jornais]. A imobiliária do meu pai ficava exatamente onde hoje é a Casas Bahia da Estrada do Campo Limpo [número 4.176].  Depois ele montou uma carpintaria, uma fábrica de portas e janelas.

“Em 1969 meu pai construiu uma casa na Rua Cajangá, perto de onde hoje fica a Delegacia de Polícia do Campo Limpo. Eu não lembro se a casa onde a gente morava antes dessa, se era própria ou aluguel.
No poema ‘Campo Limpo Taboão’ escrevo que quando nasci eu tinha seis anos. Na verdade eu tinha cinco. Não sei por que escrevi que tinha seis. Acho que errei a conta. Eu nasci em 1964. E a minha irmã Diane ganhou uma vitrolinha quando ela fez aniversário em 1969. Vitrola Philips azulzinha. Essa vitrolinha é a coisa mais antiga que eu lembro na minha vida. Daí pra trás eu não lembro mais nada. Então, é como se eu tivesse nascido na época que ela ganhou a vitrolinha. Não lembro que tipo de música se ouvia naquela vitrola.
A minha irmã Diane tem influência sobre alguns gostos meus. Como ela despontou primeiro para as coisas da cultura, por ter nascido primeiro, tinha essa influência. Ela foi estudar Psicologia na faculdade Osec que hoje é Unisa, no bairro Santo Amaro [zona sul da capital São Paulo]. Daí a Diane me deu o livro ‘Escuta Zé Ninguém’, do Willhelm Reich. Aí eu li aquele livro e fiquei doido. Mudou minha vida. Eu tinha 17 anos na época.
Na escola sempre um aluno mediano, medíocre. Nunca fui um cara assim... É uma pena, né cara? Eu não gostava muito de matemática, física, essas coisas não me... Achava que não ia servir pra nada. Fórmulas que você esquecia. Da escola para mim o mais importante era a sociabilidade. A gente conhecia todo mundo. Crescemos todos juntos. Desde a infância até a juventude. Mas eu gostava de História, Geografia”.

“Na época da minha infância, os ônibus vinham de Pinheiros e paravam em frente do Bar Nosso Ponto, na imediação de onde é hoje uma agência do Bradesco [Estrada do Campo Limpo, nº 3.000].

“Meu pai demorava para chegar em casa vindo do trabalho. Como ele tinha vida de boêmio, a gente acompanhava os horários dele. Dormia muito tarde, esperando ele chegar. E acordava tarde, para tomar café da manhã com ele.
Era um ritual quando meu pai sentava para comer. De manhã ele levantava, e minha mãe ia preparar pãozinho tostado pra ele. Me lembro da minha mãe pegando aquela panela de ferro, e fazendo pão com manteiga tostado pra ele. Meu pai era glutão, e a gente foi nessa de comer também. Ele passava nas padarias e sempre trazia coisas. Ele passava na padaria do seo Agostinho, no Umarizal. Na padaria do Pirajuçara. Depende do lugar de onde ele vinha, cada diz numa região. Em casa era uma fartura. Biscoitos, pão-doce, sonho. Essas porcarias de padaria, e hoje eu não como nada disso aí.

“Em algum período da minha adolescência meu pai mudou de ramo de negócios. Fechou a imobiliária e abriu uma fábrica de portas e janelas.
Descarreguei muitos caminhões de batentes de peroba vinda do Paraguai e do Mato Grosso.
Ele abriu filiais pra todo lado que você possa imaginar. Aeroporto, Osasco,  Maria Sampaio, vários lugares. Chegou a ter 19 lojas. Vieram até parentes da minha mãe do interior para ajudar, meus tios de Araçatuba e Marília. Montava as lojas, colocava gerentes. Teve mais ou menos 40 a 60 pessoas trabalhando pra ele. Final de semana lá em casa era fila, pro pessoal pegar dinheiro. Tinha as 19 lojas funcionando, mas não tinha controle sobre nada.

“Com 15 pra 16 anos consegui um trampo de Office-boy na Casas Pernambucanas. Os negócios do meu pai já não iam bem das pernas.
Meu amigo Nicola estava trabalhando lá, fui fazer uma ficha e acabei contratado.
Era um sofrimento, viu cara? Daqui até na Rua Consolação... Tinha que pegar o ônibus 7391, acordar às 6h da manhã. Cheguei até a ser promovido lá. Trabalhava de gravatinha e tudo, você acredita? Meu serviço era um trampo que eu não entendia muito bem. Mas me promoveram... (risos). Era negócio de ativo fixo, umas plaquinhas, calcular umas planilhas bestas com uns números... Pedi demissão porque já não aguentava mais aquele emprego.

“Saí da Casas Pernambucanas e voltei a trabalhar com meu pai. Começamos a lidar com consertos de janelas e persianas. A gente colocava umas placas: “Conserto janelas”. Aí o pessoal ligava no fone 511-4694. Sempre tivemos bastante serviço nesse ramo.

Suzi e Binho
“Conheci a Suzi em 1983 em um Dia dos Namorados, numa festa na casa do professor Toni, que morava na Estrada do Campo Limpo, perto da entrada para o Parque Ypê. Ele era professor de Artes na escola estadual onde a gente estudava. Esse professor fazia uns bailinhos na casa dele. Chego lá na festa, olho a Susi, me encanto. Dançamos. Eu estudei coma irmã da Susi a vida inteira, desde o primeiro ano de escola, e não conhecia ela. Daí teve uma briga lá no bailinho, um empurra-empurra. Naquela de proteger ela, a gente se aproximou. Segurei na mão dela.
Daí namoramos durante uns seis meses, e separamos. Ficamos uns quatro anos afastados.
Depois voltamos.

“Em 1982 fui pra Juquiá, com 18 anos de idade. Meu tio Antonio, ex-sócio do meu pai na imobiliária, esse tio estava montando uma fábrica de doces de banana em Juquiá. Fiquei oito meses ajudando lá. Fazendo serviço de peão na montagem da fábrica. Mas demorou demais pra começar a funcionar. Decidi: ‘Eu não posso ficar aqui’. E vim embora.
Decidi vender bananas em cacho aqui em São Paulo. Fui no Ceasa, comprei um caminhão de bananas. Quando vieram me entregar, o caminhão quebrou no meio do caminho, na avenida Marginal, do lado da raia olímpica da USP. Mas tiveram de se virar; obrigação deles era trazer a banana até mim. Transferiram a carga de um caminhão para outro, e enfim chegou.
Peguei um Corcel velho que eu tinha, e saí pra vender. Lembro até hoje: primeiro lugar que bati em portas pra vender, foi nos sobradinhos da subida da Engemix [concreteira que tinha suas instalações na Rua César Simões, Taboão da Serra]. Meu bordão era: ‘Cambalacho, banana no cacho’. Na época não era costume vender banana em cacho nas portas das casas. Vendi bananas por uns dois anos. Ganhei uma boa graninha.
Daí decidi estudar e tentar passar no vestibular para Medicina. Ganhei uma bolsa de estudos no Anglo. Tentei por dois anos. Mas daí, sem chance. Moleque de periferia trabalhando e estudando, vai disputar um cargo na USP?

“Na minha adolescência tinha os bailinhos do clube da Casas Pernambucanas, na Estrada do Campo Limpo. A gente dança black music, K.C. and Sunshine Band, James Brown, essas coisas.

“Quando fui fazer o cursinho para prestar vestibular para Medicina em 1988, com 24 anos, me veio uma inspiração para escrever uma poesia pela primeira vez na minha vida. Meu pai alugava para outras pessoas uns quartinhos no quintal da nossa casa. Um dia, eu estava chegando em casa vindo do cursinho pré-vestibular, e dois dos inquilinos estavam querendo se matar na faca. E tavam naquela discussão: ‘Você falou’. E o outro: ‘Eu não falei’. Batendo boca um com outro, ameaçando dar facadas. No disse-me-disse. Daí eu transformei a confusão daqueles dois em poema: ‘Cê falou. Não falei. Cê falou. Não falei. Cê falou. Não falei. Cefaleia’. Foi o primeiro poema que escrevi. E ficou só neste na época. Eu gostava de ler, mas não de escrever. Tinha um poema antes do ‘Cefaleia’, mas era muito narcísico. Estava apenas esboçado, era uma brincadeira com meu próprio apelido, uma brincadeira. Mas era muito narcisista e deixei pra lá. A minha sobrinha Emayra talvez tenha guardado este esboço, mas... Eu vim descobrir a poesia com a biodança, um curso que eu fiz em 1995, na Rua dos Escultores, no Alto de Pinheiros, na Escola Paulista de Biodança. Minha irmã Diane quem me levou. Daí tinha de fazer lá uma aula de criatividade, oferecer um poema para um amigo. Ali foi meu verdadeiro encontro com a poesia”.

“Na adolescência, cursando o ensino médio (antigo colegial) eu pensava em estudar alguma coisa ligada com Medicina, ou Psicologia, por influência da minha irmã Diane.
A Diane, minha irmã, vai ver que é minha mentora (risos)... Aquela poesia: ‘Quando eu nasci tinha seis anos’, que é a idade com que eu me deparei com aquela vitrolinha da minha irmã. A memória mais antiga da minha infância. Antes desse acontecimento não tenho lembrança de nada. Eu passo a existir pra mim mesmo só depois da vitrolinha. E essa poesia termina com: ‘De tão solitário sou meu próprio vizinho’. É um verso que a filha da Diane – olha a ponta da raiz ligando! – a Raíssa filha da minha irmã era menina, e estava brincando de bonecas com a minha filha Naiana, no tempo em que eu morava em um apartamento no Jardim Umarizal. Eu estava passando do quarto pro banheiro, escutei ela falar: ‘Ué, Naiana, onde já se viu? Como você vai ser sua própria vizinha?’. Aí eu anotei e usei essas duas pontas no meu poema “Campo Limpo/Taboão”. Um fato que aconteceu comigo quando criança abre o poema, e o poema fecha com outro fato da infância da minha filha e minha sobrinha. E minha irmã Diane no eixo disso tudo”.

“Em 1990, resolvi conhecer a Europa. Vendi uma moto e um fusca que eu tinha. Vendi meus livros, discos... Tudo que desse grana. Também fiz uma festa para arrecadar dinheiro para a viagem. Nesta época eu já não usava cueca. Comprei uma cueca, a gente cortou ela em pedaços, tipo gravata de casamento. Pra arrecadar um dinheirinho. Fizemos a festa no quintal de uma escolinha que a minha irmã Diane tinha no bairro Monte Kemel.
Na hora de eu ir viajar, o dinheiro ficou preso no banco. Mas como a Susi trabalhava no banco Itaú, conseguiu lá de alguma forma liberar essa grana.
Fui embora, e desembarquei em Madri. No mesmo dia, alguma coisa me dizia: ‘Vai pra Barcelona’. Peguei um trem e fui. Em Barcelona não consegui emprego. Minha ideia era arrumar trabalho e ficar por lá. Tinha que trabalhar, porque eu tinha pouco dinheiro. Levei apenas 1456 dólares.
Depois de 15 dias em Barcelona, fui embora pra Itália. Ia ter a Copa do Mundo, e fui para Torino, onde a Seleção Brasileira ficou hospedada. Lá perto, nas proximidades de Siena, estava morando o meu amigo Mazzola, que também é morador antigo aqui do Campo Limpo. O Mazzola e uns parentes dele trabalhavam num lava-rápido na cidade de Colle di Val d'Elsa, e fiquei ajudando eles por uns 15 dias. Não podiam me dar emprego porque eu não tinha autorização para trabalhar na Itália. Na Copa cheguei a assistir dois jogos do Brasil. Também conheci Milão e Roma Em termos de dinheiro, só uma merreca no bolso. Mas eu dormia de qualquer jeito: em estação de trem, rodoviária. Onde desse. Era época de verão na Europa, então não tinha problema. Se fosse inverno, eu tinha dançado.
No dia que atravessei a fronteira da Itália com a França, conheci o Ezio Sandroni. Estávamos no mesmo ônibus. Lembro até que ele tinha machucado o braço. Como ele já tinha estado no Brasil, começamos a conversar. Daí ele me deu o telefone dele, e falou pra eu procurá-lo na casa dele, na comuna de Monforte D’Alba. Fica na região onde se produz o vinho Barolo, um dos melhores vinhos do mundo.
Nessa fase eu já tava preocupado, porque minha grana estava acabando, e eu não conseguia emprego. Liguei pro Ezio. Ele veio me encontrar numa estação de trem, e fomos no carro dele para o sítio onde ele morava bem afastado da cidade. O Ezio trabalhava com restauração de móveis, e eu fiquei ajudando nesse serviço.
Dali fui para Israel. Fiquei cinco meses lá, trabalhando no Kibutz Erez, na localidade de Ashkelon [no litoral sul de Israel, ao norte da Faixa de Gaza. Segundo uma lenda bíblica, nesta cidade teriam vivido os personagens Sansão e Dalila].
Fui para Israel porque, sem dinheiro no bolso e sem autorização para trabalhar na Itália, eu tinha de ir embora para algum lugar. E fui servir como voluntário no kibutz em Israel [Kibutz é uma fazenda de propriedade coletiva. Toda a produção é repartida por igual entre os seus membros, e forte prioridade à Educação das crianças].
Na época o Saddam Hussein ainda não tinha invadido o Kwait. Então foi fácil ir para a região do Oriente Médio. Um mês depois que eu estava em Israel, houve a invasão, e a coisa ficou meio tensa. Mas em Israel não tive problemas. Até porque eu não saia muito do kibutz. Num kibutz você faz de tudo. Cuida de jardim, limpa piscina, trabalha no estábulo, na plantação. Não cheguei a trabalhar no estábulo. Mas trabalhava com uns canos de irrigação, e também colhia abacates. Colhi muito abacate; muito mesmo. A gente usa essas cadeiras elevatórias, tipo as que usam para consertar luzes em postes.
Mas em cinco meses tive de ir embora, porque o clima ficou tenso na região. O Saddam tinha ameaçado abrir guerra com Israel. Com os palestinos infelizmente não pude criar nenhum vínculo. Só uma vez cheguei perto da Faixa de Gaza, e mesmo assim dentro de um ônibus escoltado pelo exército. Era muito perigoso ir na Faixa de Gaza, e eu não quis me arriscar. Pra você ter uma ideia de como os árabes e os judeus de odeiam, quando eu estava indo embora para a Jordânia, um palestino me deu um dinheiro, e disse: ‘Isto é para te ajudar na sua viagem’. Daí veio um molequinho judeu e me questionou: ‘O que você está conversando com esse árabe filho da puta?’. O moleque falava um português todo cheio de sotaque judeu, mas veio cobrar satisfação do por quê eu estava conversando com um palestino.

“Antes de sair de Israel, eu precisava arrumar dinheiro pra viagem. Daí fui trabalhar em uma moshav, que é fazenda nos moldes capitalistas. Lá eles pagam em dinheiro. No kibtuz eu não ganhava nada.
No moshav trabalhei para um judeu-argentino, colhendo tomates e envenenando rosas.

“Saindo de Israel fui para Londres, e lá eu trabalhei lavando pratos em uma pizzaria. Depois também trabalhei numa discoteca. Um ano depois que eu estava em Londres a Susi foi me encontrar, e trabalhou lá trabalhando de faxineira em casas de famílias.
“Quando voltamos de Londres em 1993, quis montar um comércio. Fui pra Santo Amaro procurar um ponto para abrir um barzinho, uma lanchonete. Pra começar a vida. A Susi tinha engravidado em Londres.
Em abril ou maio de 1993 abri o bar junto com a Susi. Naquele bar cheguei a fazer saraus. Mas era muito esporádico. A cada seis meses eu fazia a “noite da vela”. Acendíamos velas para o ambiente ficar meio na penumbra. A gente punha pra tocar discos de vinil (o popular bolachão). Rolava de tudo que é tipo de música. Ravi Shankar, Enio Morricone, Pink Floyd, Milton Nascimento. E tocava só lado B.

“Eu sou muito ruim pra escrever. Faz sete anos que eu não escrevo nada inédito. Às vezes uma frasezinha que eu guardo. Não escrevi nada ainda sobre as caminhadas do Donde Miras. Pode ser que venham poemas. Pode ser que não venha. Mas não fico ansioso, me cobrando por não escrever. Eu vou fazendo outras coisas da vida, né? Fico na fazeção, e aí quando vou ver, já estou envolvido com outras coisas. Sou um poeta temporão. Teve o Postesia em 1997, e o Donde Mirasem 2007, dez anos depois. Depois que conheci a ayahuasca, por ela ter aflorado a minha espiritualidade, talvez a minha poesia vá se modificar. Porque já é uma outra dimensão que eu estou vivendo com a poesia. Já é uma outra poesia que virá, eu acho. Mas estou deixando ela aí. Não tenho pressa. Pode ser que não venha.
Eu não me preocupo em fazer nada inédito. A Susi se preocupa. Ela me diz: ‘Você não vai fazer nada? Tá na hora, tá na hora [de publicar algo novo]’. Ela quer que eu lance um livro, mas eu não tenho pressa”.

“Faz dois meses que só bebo água de uma nascente aqui da região do Campo Limpo, no caminho do Jardim Catanduva, perto do condomínio Floresta. Essa água não tem cloro e nem flúor. Se flúor fosse bom para os dentes, a Estrada do Campo Limpo não teria tantos consultórios de dentistas. O flúor é um resíduo da indústria do alumínio. Eles jogavam isto nos rios. Daí alguém fez uma pesquisa comprada, fraude científica, por volta da década de 1930 ou 1940 nos Estados Unidos, dizendo que o flúor faz bem para a dentição. Daí, claro, as ações foram lá pra cima. O cara que fez isto ganhou uma puta grana, era funcionário do governo. O flúor dá problema na tireóide, e calcifica a glândula pineal, que é o nosso regulador de hormônios. Com relação à cárie, o flúor não previne nada; não está provado isto. Ele melhora apenas zero vírgula zero qualquer coisa. É praticamente nada. A Alemanha proibiu o flúor na água, a Irlanda do Norte proibiu, a Bélgica, Dinamarca, Finlândia, todos os países sérios proibiram.
Binho e David no boteco
Fecha-Nunca, no Campo Limpo
“Manoel de Barros é minha paixão. Meu inspirador. Quando eu fui na casa dele em 2003, mandei uma carta antes onde eu dizia apenas: ‘Estou indo, Manoel. Estou indo’. Pra chegar lá, foi uma epopéia. De São Paulo até Araçatuba, comprei passagem nesses ônibus que levam pessoas para visitar presidiários. Fui com os familiares dos presos porque esse tipo de passagem é bem mais barata. Em Araçatuba fiquei na casa de uns primos que moram lá, até me arrumarem uma carona de caminhão até o Mato Grosso. Fui com o caminhoneiro Paco, numa carreta Volvo carregada de óleo de cozinha.
Quando mandei aquela carta em 2003 pro Manoel de Barros, nem esperei resposta. Fui logo para a estrada. O único contato anterior que eu tinha com o Manoel  de Barros foi uma carta que mandei pra ele quando lancei o Postesia. Daí ele mandou uma cartinha manuscrita de volta, dizendo que adorou. Essa carta ficava na cabeceira da minha cama. Mas um dia levei esta carta em um evento onde fui falar sobre o Manoel de Barros e não sei onde ela está. Mas está em casa. Preciso achar.
Voltando ao assunto da minha carona no caminhão. Chegamos em Cuiabá à meia-noite. Fui dormir na casa do caminhoneiro. Ele tinha um filho recém-nascido. Em casa já tinha recado para ele sair às 4h da madrugada, porque foi escalado para uma nova viagem.
O motorista Paco me deixou em um posto de gasolina, longe da cidade porque a carreta não podia entrar na área urbana. Do local onde o caminhão me deixou andei um quilômetro até pegar um ônibus. Nesta caminhada até o ponto do ônibus, vi umas formigas pelo chão. Aí me veio este verso: ‘E de eu assim tão ermo, me destaco da paisagem’. Eu estava impregnado de Manoel de Barros, e guardei esta frase para usá-la depois em um poema.
Chegando na Rua Piratininga, no Jardim dos Estados, onde ele morava, não fui na casa do Manoel de Barros de uma vez. Fiquei cerca de meia hora em frente ao portão. Pensando: ‘Será que ele está aí?”. Daí fui até a esquina, fiz mais uma hora, tomando coragem.  Toquei a campainha, alguém da casa atendeu ao portão. Daí vem o Manoel, aquele velhinho sorrindo, de sandália. E me diz: ‘Ô, rapaz. Você deu sorte. Cheguei hoje do Pantanal’. Ficamos conversando. Eu não lembro quase nada do que falamos, porque minha memória é uma bosta. E eu também não queria gravar a conversa. Queria guardar aquele momento na minha emoção. Daí ele me recomendou ler Padre Antonio Vieira, falamos de Guimarães Rosa e várias coisas. O que almoçamos eu não lembro. Só sei que estava bom pra caramba. Salada tinha bastante, e azeite que ele gostava. Estava o Manoel, a dona Estela esposa dele, o Pedro filho dele, uma sobrinha, a empregada, Ele era muito espirituoso. Achou graça de eu ter ido até lá da maneira como eu fiz. Daí ele disse: ‘Você fez muito esforço para chegar até aqui. Vou levar você lá em cima na minha toca [o escritório do autor]’. Era ali onde ele sentava para trabalhar às 7h da manhã e só saia ao meio-dia para almoçar. Lá na toca dele, me  deu um livro de sua autoria editado na Espanha. Disse: ‘Vou te dar este aqui de presente. Já que você veio de tão longe’.
David... Eu não bebo. Quando eu sai da casa do Manoel de Barros, eu fui para a rodoviária e tomei duas cervejas. Eu estava em regozijo. Não era êxtase porque eu já sei o que é êxtase. Êxtase eu senti quando eu voltei de Londres e vi meu pai e minha mãe no aeroporto. Ali foi êxtase. Abracei meu pai, minha mãe, e minha família. Ali entendi essa emoção que o meu corpo desconhecia até então. Não tinha sentido aquilo ainda. Um choro de alegria. Um frêmito. Meu corpo tremia todo, vibrava.”

Voltando de Manoel de Barros

Robinson Padial, o Binho

Até onde eu quero ir com minha incompletude?
Até a meia noite de um rio!?
Até quando um homem aguenta de não morrer?
Em mim o silêncio faz a festa.
Sou cheio de dentros.
Sou tão de misericórdia quanto de petição.
De eu ser assim tão ermo, me destaco da paisagem.
E dá gosto de haver-se estado gente um dia.
Quanto mais pra dentro o demônio me combina,
mais me amplia para Deus.
Sei que a ninguém pode acontecer isso,
mas eu chuvo no meu ser.
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